A tentativa do governo federal de facilitar o acesso ao crédito para pequenos negócios é vista com desconfiança pelo meio empresarial.
Em fevereiro deste ano, o BNDES reduziu as taxas para financiamento de capital de giro de 15,23% para 11,67% ao ano para empresas com receita bruta anual de até R$ 16 milhões.
Os novos valores entram em vigor neste mês e a estimativa do Sebrae é que as taxas finais cobradas pelos agentes financeiros – que incluem o spread bancário – acabem encarecendo os empréstimos, chegando a juros de 25% ao ano.
Em 2015, as micro, pequenas e médias empresas receberam 27,5% dos recursos desembolsados pelo BNDES e, em todos os casos, o volume de dinheiro aportado diminuiu, impactado pelos efeitos da crise econômica.
Segundo o gerente da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-PR, César Rissete, os bancos estão mais prudentes na liberação de crédito, principalmente para capital de giro. A expectativa, afirma, é que não haja um aumento no volume de crédito e sim uma troca de juros mais caros por mais baratos.
Entre os empreendedores, a principal demanda é por acesso a linhas de capital de giro – dinheiro usado para administrar o dia a dia do negócio.
Pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi) ao Datafolha mostra que, para 68% dos empresários entrevistados, o capital de giro foi insuficiente ou pouco durante fevereiro. Entre aqueles que tentaram recorrer a empréstimos, somente 11% conseguiram crédito para pessoa jurídica, enquanto 27% tiveram que recorrer ao cheque especial.
O presidente do Simpi, Joseph Couri, diz que o custo elevado do dinheiro e as “garantias exorbitantes” estão dificultando o acesso ao crédito quando as empresas mais precisam, ou seja, durante a crise. “Não existe crédito no mercado e isso vem se agravando com o aprofundamento da recessão.”
Capital de giro
O aumento da demanda por linhas de capital de giro, situação comum em momentos de crise, também foi verificado no BRDE Paraná. O gerente de Operações para Micro e Pequenas Empresas do banco, Everson Leão, diz que o foco do empresário passou de expansão da capacidade produtiva, com procura por financiamentos para máquinas e equipamentos, para linhas de capital de giro e inovação.
Essas linhas, porém, afirmam os empresários, têm taxas mais altas e exigências mais rígidas para conseguir liberação. O presidente do Sebrae Nacional, Afif Domingos, articula junto ao governo uma maneira de diminuir o spread e fazer com que o dinheiro seja liberado com taxas acessíveis – de 15% a 18% ao ano.
Uma das alternativas é a liberação de mais recursos dos depósitos compulsórios e do FAT, ampliando o microcrédito orientado para empresas com faturamento até R$ 360 mil, em vez dos atuais R$ 120 mil. O valor contratado por operação também subiria de R$ 15 mil para R$ 30 mil.