O vice-presidente sênior da Moody´s para América Latina, Mauro Leos, um dos responsáveis pela recente concessão do investment grade pela agência ao Brasil, afirmou que o Brasil "terá que aprender a conviver com entrada forte de capitais estrangeiros até final de 2010". Segundo ele, a boa recuperação da economia brasileira a partir do segundo trimestre, após os efeitos da crise internacional, despertou muita atenção de instituições financeiras e fundos que estão interessados em aplicar capitais no País. "O Brasil está no topo das atenções dos investidores mundiais", afirmou.
"O interesse no País é geral. Ocorre com quem já conhece e aplica recursos no País e também com aqueles que ainda não investem, mas estão bem interessados em fazê-lo", comentou. Mauro Leos destacou quais são os fatores que estão atraindo o interesse de instituições financeiras com mais vigor recentemente em relação ao Brasil. Um dos principais é o retorno obtido no País, seja em renda fixa ou renda variável. A taxa real de juros (descontada a inflação) está perto de 5,4%, que é bem acima do patamar negativo registrado em vários países desenvolvidos, entre eles, os Estados Unidos e o Japão.
Por outro lado, o Brasil já apresenta um bom nível de "previsibilidade" na condução da política econômica, pois ela está sendo mantida por vários anos sem alterar seu tripé básico que é o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e rigor fiscal. Sobre se ele está preocupado com as perspectivas das contas públicas para os próximos trimestres, Leos disse que "o fato de termos concedido o grau de investimento, com perspectiva positiva, não indica que estamos preocupados com o desempenho fiscal do País", observou. "Acreditamos no compromisso do governo de continuar administrando a situação fiscal de forma eficaz."
O analista manifestou que há alguns pontos que chama a atenção relacionados aos gastos correntes, mas ele ponderou que a situação fiscal deve melhorar no próximo ano, com o crescimento mais sensível do PIB e decorrente da maior expansão da arrecadação de tributos das empresas.
Leos disse que não acredita na eficácia da adoção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre capitais que ingressam no País vindos do exterior e que têm como direção ativos na Bolsa de Valores e em renda fixa. Ele ressaltou que o ingresso de capitais é um reflexo das boas condições econômicas, em comparação aos principais mercados emergentes. Leos destacou que em algumas nações que registraram entrada de recursos internacionais robustas, geralmente, foram adotadas medidas fiscais e monetárias.
Ele, contudo, não quis fazer nenhum tipo de recomendação de eventuais ações que o Banco Central e o Ministério da Fazenda poderiam adotar para coibir a perspectiva de valorização do câmbio. "Quem decide sobre juros é o Copom e não posso também falar sobre questões fiscais no Brasil." Leos concedeu entrevista após um seminário promovido pela Moody´s para analistas e empresários em São Paulo.
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