| Foto: Wilson Dias

O economista Nelson Henrique Barbosa Filho deixa o Ministério do Planejamento na próxima segunda-feira (21) para assumir a pasta da Fazenda no lugar de Joaquim Levy. O anúncio foi feito pelo governo na sexta-feira (18), após dias de boatos sobre a saída de Levy, que permaneceu no cargo por apenas um ano.

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No cargo mais importante da equipe econômica, Barbosa precisará afastar a desconfiança do mercado financeiro e a pecha que ganhou de ministro do “antiajuste” das contas públicas. A fama de gastador foi alimentanda ao longo do ano por sua defesa, vitoriosa junto a presidente Dilma Rousseff, de enviar ao Congresso um orçamento com déficit primário e de redução da meta fiscal. Postura que custou a perda do grau de investimento do Brasil e causou a piora na confiança dos investidores.

A economia brasileira tem expertise para superar os desafios. Se cada um fizer sua parte, vamos conseguir superá-los.

Nelson Barbosa
novo ministro da Fazenda.
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O mercado reagiu mal ao anúncio de Barbosa, um dos criados da “nova matriz econômica”, corrente que defende o Estado como indutor do crescimento, implantada no primeiro mandato de Dilma Rousseff, em contraposição à defesa ferrenha do tripé econômico: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário, fundamentos seguidos nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo caiu 2,98% e o dólar terminou o dia cotado R$ 3,9614, alta de 1,75%.

Sem rótulos

Em entrevista coletiva no palácio do Planalto, Barbosa afirmou que não quer que sua nova gestão seja rotulada como “nova matriz econômica”, nem “velha matriz”. “Prefiro não ter debate sobre política macroeconômica com base em rótulos”, disse. “É importante aprender com os erros e acertos do passado. Não estamos no governo para refutar teses, estamos preocupados em resolver problemas do presente para construir um futuro melhor”, afirmou.

O ministro disse que continuará mantendo o ajuste fiscal iniciado pelo antecessor. “O foco continua sendo o reequilíbrio fiscal. Somente com estabilidade fiscal vamos ter um crescimento sustentável.”

Reformas estruturais

Segundo Barbosa, aumentar a economia feita pelo setor público para pagar os juros da dívida é condição essencial para o controle da inflação e a retomada do crescimento. “A meta está dada (0,5% do PIB) e vamos trabalhar para persegui-la.”

Para isso, admitiu que é preciso avançar mais nas reformas estruturais de longo prazo, a partir do controle dos gastos obrigatórios. E citou que a principal dessas reformas é a da Previdência, cujos gastos consomem 47% do orçamento.

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Eu e minha equipe fizemos o que foi proposto em janeiro, pelo menos naquilo que dependia de nós.

Joaquim Levy agora ex-ministro.

Despedida

Joaquim Levy divulgou uma carta de despedida onde afirma que ele e sua equipe cumpriram o que foi proposto em janeiro, pelo menos no que dependia do ministério. Ressaltou ainda que chega ao fim de 2015 preocupado com a situação do país, mas confiante na capacidade de reação da economia. “O tempo saberá mostrar os resultados que se colherão de tudo que foi feito até agora nesse ano”, disse.

Valdir Simão

Homem de confiança da presidente Dilma Rousseff, o advogado Valdir Simão, de 55 anos, deixa a Controladoria-Geral da União para assumir o Ministério do Planejamento. De perfil técnico, é servidor da Receita Federal há 27 anos. Esteve à frente do INSS, foi secretário-adjunto da Receita, secretário da Fazenda do Distrito Federal e secretário-executivo do Ministério do Turismo e da Casa Civil.

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“Pedaladas”

Nelson Barbosa está na lista de pessoas que podem ser punidas pelo Tribunal de Contas da União no caso das chamadas “pedaladas fiscais”. O tribunal considerou ilegais os atrasos dos repasses da União para quitar benefícios sociais e subsídios pagos por bancos públicos em 2013 e 2014. Ao menos 17 servidores, entre eles Barbosa e o ex-ministro Guido Mantega, podem responder por atos de improbidade e crime contra as finanças.

‘Nelsão’ segue escola desenvolvimentista

  • são paulo

Conhecido por suas posições desenvolvimentistas, Nelson Henrique Barbosa Filho, de 46 anos, é considerado um dos responsáveis pelas mudanças na política econômica a partir do fim de 2008. Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve como professores economistas que defendem a maior participação do Estado na economia, como Carlos Lessa e Maria da Conceição Tavares.

Na década de 1990, foi funcionário concursado do Banco Central e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em 2003, foi trabalhar com Guido Mantega no Ministério do Planejamento. No Ministério da Fazenda, mais uma vez sob Mantega, foi alcançando cargos cada vez mais altos: secretário de Acompanhamento Econômico (2007-2008), de Política Econômica (2008-2010) e, no governo Dilma, secretário-executivo (2011-13).

“Nelsão”, como é conhecido, nunca foi filiado ao PT, mas esteve sempre próximo ao partido. O economista se aproximou da presidente Dilma durante o governo Lula. Desgastado, chegou a deixar o governo em junho de 2013, mas voltou no fim de 2014 para assumir o Planejamento.