Com o mercado brasileiro encolhendo cerca de 30%, a fabricante de cabos ópticos Furukawa conta com as exportações para seguir crescendo. As vendas ao exterior, que garantiram o avanço do faturamento e do lucro em 2015, seguem salvando o balanço neste ano.
A divisão latino-americana da companhia, comandada a partir da fábrica instalada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), teve receita líquida de R$ 708 milhões no ano fiscal encerrado em 31 de março, 11% mais que em igual período anterior – com sede no Japão, a empresa segue o calendário corporativo da matriz. No mesmo intervalo, o lucro líquido saltou 22%, para R$ 76 milhões.
Empregos mantidos
Os bons números da Furukawa – que lhe renderam o título de campeã do setor de eletrônicos no anuário Melhores e Maiores 2016, da revista Exame – também estão ligados à parceria com os funcionários, diz o diretor-presidente, Foad Shaikhzadeh. Os trabalhadores aceitaram uma redução de cerca de 20% na participação nos lucros e resultados (PLR), o que, segundo o executivo, está permitindo à empresa atravessar a crise sem demissões em massa. A companhia emprega 1,2 mil pessoas na América Latina, das quais 800 em Curitiba.
“Em 2014, a exportação era responsável por 18% das vendas. Em 2015, representou em torno de 30%. Esperamos que neste ano ela avance um pouco mais, para 34% ou 35%”, diz Foad Shaikhzadeh, diretor-presidente da Furukawa Industrial S. A., holding que concentra os negócios da América Latina.
O executivo atribui o bom desempenho lá fora a um plano de crescimento desenhado há alguns anos. A empresa tem fábrica na Argentina desde 2008 e, em 2014, passou a produzir também na Colômbia, para atender à porção norte da América do Sul e parte da América Central. Um ano atrás, abriu um escritório comercial no México.
As fábricas da Argentina e Colômbia produzem o “feijão com arroz”, ou seja, cabos ópticos. Nesses dois países e nos demais mercados da América Latina, o fornecimento dos acessórios e equipamentos necessários para a instalação e operação de uma rede de fibra óptica fica a cargo da unidade de Curitiba, que também produz cabos ópticos e metálicos.
Câmbio
Ao planejar o ano fiscal de 2016, tendo em vista um dólar próximo a R$ 4, a diretoria da Furukawa projetou uma alta de mais de 10% nas receitas. Hoje, com o dólar abaixo de R$ 3,20, já não espera tanto. A previsão atual é de algo entre 5% e 6%, pouco abaixo da inflação esperada pelo mercado, de 7,2%. Ainda assim, um resultado para se comemorar.
“É um ambiente difícil. Na média de quatro anos, temos o pior PIB desde a proclamação da República. Se o Brasil voltasse a ser aquele de cinco ou seis anos atrás, nosso crescimento seria facilmente de 20%”, diz o diretor-presidente. “Existe uma demanda reprimida gigante no setor. A telecomunicação virou item de consumo, e isso significa uma demanda cada vez maior por banda [de dados] e, portanto, por fibra óptica. Porque, fora a comunicação entre o celular e a antena, tudo o mais depende de fibra.”
Clientes
Um dos trunfos da Furukawa, segundo Shaikhzadeh, é a diversificação dos clientes, dentro e fora do país: “Gostamos de ter clientes gigantes, desde que nenhum represente mais de 10% das nossas vendas. Senão, o que acontecer com ele pode nos afetar muito”.
Nesse sentido, diz, a companhia tem à frente um “bom desafio”. Ao comprar a GVT, a Vivo passou a representar 13% do faturamento da Furukawa. “Temos que continuar vendendo bem para ela, mas também precisamos desenvolver outros clientes”, admite.
“Seria pior sem a Olimpíada”, afirma executivo da empresa
A Furukawa divide seus negócios em três blocos.
O primeiro é o das vendas para operadoras de telecomunicações, no qual ela detém 35% do mercado brasileiro. O segundo, chamado internamente de “enterprise”, reúne as vendas de cabos e acessórios para redes locais de computadores, segmento em que a empresa é líder, com participação de 50%. O terceiro é o das exportações, o único que está crescendo.
O resultado do bloco das operadoras, que já não vinha bem, deve se agravar em razão do pedido de recuperação judicial da Oi, uma das gigantes do setor.
O desempenho do segundo bloco, espécie de “varejo” da Furukawa, não é melhor.
“O que aliviou um pouco foi a Olimpíada”, revela o diretor-presidente da companhia, Foad Shaikhzadeh.
Segundo ele, a empresa foi responsável pela construção da infraestrutura de transmissão de dados em várias instalações dos Jogos Olímpicos, entre elas o parque aquático e o centro de mídia, bem como do aeroporto do Galeão.
“A infraestrutura que suporta os sistemas de reconhecimento facial instalados em vários aeroportos do país também é nossa”, conta.
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