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Crise Brasil-Bolívia

Para Lula, impasse com Bolívia "tinha muita fumaça e pouco fogo"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado, após a reunião com o presidente boliviano, Evo Morales, em Viena, que as tensões entre os dois países foram amenizadas.

"Tinha muita fumaça e pouco fogo", disse ele. "Eu disse ao presidente Evo Morales que o Brasil precisa do gás da Bolívia e a Bolívia precisa vender o gás para o Brasil, portanto eu preciso encontrar o ponto de equilíbrio justo para que o Brasil fique satisfeito e a Bolívia fique satisfeita".

Os dois líderes participam da cúpúla de chefes de Estado da América Latina e União Européia (UE), na capital austríaca.

Lula afirmou ainda que, tanto ele quanto seu colega boliviano, compreendem que a única chance de desenvolver a América Latina é "ter paz".

"Eu acho que, tendo essa compreensão, não teremos problema nenhum no nosso continente. E nós temos que ter clareza que é preciso parar na América Latina de um presidente ficar culpando o mundo pela pobreza do seu país", disse Lula.

Lula ainda fez referência a um comentário do presidente boliviano nesta semana de que o país teria sido explorado por 500 anos.

"Acho que se a gente pensar no século XXI, a gente pode dar um salto de qualidade. Se a gente ficar remoendo o passado, na verdade nós não andaremos".

Já o presidente da Bolívia, Evo Morales, prometeu "racionalidade" ao presidente Lula nas discussões sobre um possível aumento de preços do gás que seu país exporta para o mercado brasileiro.

No encontro, descrito por Evo Morales como "cordial e com enormes coincidências", o presidente da Bolívia disse que "tem interesse em aumentar o volume de exportações (de gás) para o Brasil e para outros países".

Perguntado sobre o suposto aumento dos preços, Morales respondeu com outra pergunta:

"Quem não quer melhorar sua situação econômica? Os preços do gás devem ser adotados racionalmente, (de maneira) que beneficie o Brasil, que beneficie a Bolívia".

O presidente boliviano confirmou ainda que ambos os países - Brasil e Bolívia - têm "muitos interesses em comum" e destacou o interesse de visitar o país, especialmente para jogar futebol.

"Assim que der, visitarei o Brasil e tenho muita vontade de jogar futebol com o presidente do Brasil", assinalou o líder boliviano entre risos.

O presidente boliviano acrescentou ainda que "há uma comissão de ministros" dos dois países negociando para fixar novas regras para o setor energético na Bolívia após a nacionalização dos recursos, e disse que esta comissão técnica será responsável pela definição dos novos preços.

Esta semana, Evo Morales, que no dia 1° de maio nacionalizou os recursos de hidrocarboneto da Bolívia, deu duras declarações sobre a atuação da Petrobrás no país - maior investidor estrangeiro presente na Bolívia -, chegando a acusar a empresa de atuar ilegalmente no país.

Na sexta-feira, Morales tentou aliviar parte das tensões em uma entrevista coletiva, em Viena, afirmando que o encontro deste sábado serviria para "assentar as bases" de um acordo sobre a nacionalização de hidrocarbonetos de seu país. Na ocasião, o presidente boliviano disse que não está expulsando do país a Petrobras e nem a espanhola Repsol e que, ao contrário, a Bolívia "precisa de sócios" para seu setor energético. No dia seguinte, culpou a imprensa pelas "má interpretações".

Na quinta-feira da última semana, em entrevista transmitida pela televisão, ele acusou a Petrobras de atuar ilegalmente na Bolívia e trouxe à tona a chamada Questão do Acre - sobre o estado brasileiro que, segundo o líder boliviano, foi obtida pelo Brasil em troca de um cavalo. Isso não bastasse, nesta sexta-feira o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia disse que seu país pretende vetar a participação da Petrobras no projeto do Gasoduto do Sul, o que provocou a reação do chanceler brasileiro, Celso Amorim.

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