A crise financeira global vem mostrando sua força em diversos segmentos da economia brasileira, como a concessão de crédito, a venda de automóveis e as exportações. O mercado financeiro foi o primeiro a sentir o baque, em setembro do ano passado, com a forte queda das bolsas. Entretanto, a despeito de todo este cenário recessivo, a confiança da população tem se mantido estável, conforme mostrou pesquisa da CNT/Sensus divulgada nesta semana. A percepção da crise não é geral. Alguns setores econômicos continuam a registrar crescimento, como o de bares e restaurantes e o consumo de luxo, indicando que o consumidor ainda tem fôlego para gastar e não se retraiu totalmente diante do noticiário de desaceleração econômica.

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"A crise ainda não chegou de verdade, ela ainda está chegando ao Brasil, ainda não deu tempo", avalia Carlos Melo, sociólogo e cientista político do Ibmec São Paulo. Ele ressalta que os efeitos da crise no País são pequenos quando comparados ao impacto "brutal" já sentido nos Estados Unidos e na União Europeia.

O sentimento positivo da população ficou patente na pesquisa CNT/Sensus, que mostrou que a avaliação positiva do governo e a aprovação a Lula subiram entre dezembro e janeiro, assim como o de expectativa da população para os próximos seis meses. "O poder do Lula não se comprometer é muito grande", aponta o sociólogo. Para ele, Lula possui o que os especialistas chamam de "efeito Teflon": o presidente consegue passar por escândalos políticos e crises econômicas sem abalar sua aprovação. "Intuitivamente, as pessoas ainda não sentiram o efeito dessa crise e acreditam no presidente no que diz respeito ao fato da origem da crise (os Estados Unidos)", apontou. Ainda segundo Melo, o País continua a viver os reflexos do ciclo de crescimento vivido até o quarto trimestre. "Esse começo de 2009 ainda está muito influenciado por isso", afirma.

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Um exemplo da confiança dos consumidores mesmo em um cenário de crise é o setor de bares e restaurantes. O segmento apresentou crescimento de cerca de 5% em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci Jr. "Nós temos até aumento do faturamento com a crise", disse. Segundo ele, a população diminuiu seu ritmo de consumo de bens como automóveis e eletrodomésticos, o que aumentou a renda disponível para outros tipos de gastos.

O mercado de carros de luxo, por sua vez, teve um aumento de 20% nas vendas em janeiro, em comparação com o mesmo mês de 2008, segundo dados da Audi. A montadora também teve bom desempenho no mês passado: informa ter vendido 11% a mais do que em janeiro do ano passado.

Os resultados, entretanto, não são motivo para euforia. É o que a Abrasel chama de "otimismo cauteloso". "A gente sabe que a crise vai chegar, é inevitável. Nós estamos recomendando ao setor muito cuidado com custos", apontou o presidente da entidade. "Existe essa preocupação, pois existe uma instabilidade", concorda Joaquim Saraiva, proprietário de uma rede paulista de restaurantes, chamando atenção para o risco do desemprego.

O sociólogo Carlos Melo alerta para o avanço das demissões verificado em dezembro e alerta que os efeitos da crise devem começar a ser sentidos no País, com o aprofundamento da recessão no resto do mundo. "Depois de algum tempo, não importa mais se essa crise é brasileira ou não, se ela nasceu nos Estados Unidos ou não, se ela se deu por causa da quebra do Lehman Brothers ou não. O que importa é como o governo brasileiro consegue reagir à crise", ressaltou.

Na avaliação do especialista, antes de melhorar, a crise ainda vai piorar. "Os efeitos dela ainda vão ser mais sentidos", aponta. Se as previsões dos economistas se concretizarem e o desemprego aumentar de fato, Melo acredita que a população vai ter sua confiança abalada e começará a questionar e cobrar ações do governo.

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