Em nova assembleia realizada na tarde deste domingo (15), os petroleiros da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) decidiram paralisar as atividades por tempo indeterminado. Os trabalhadores alegam que a empresa não aceitou as reivindicações feitas pela categoria para melhorar a segurança da refinaria. Os funcionários já haviam aceitado a proposta de greve levantada pelo sindicato da categoria (Sindipetro-PR/SC) na quinta-feira, mas haviam deixado a paralisação como uma "carta na manga".
Desde quinta-feira, os trabalhadores já estavam entrando com um atraso forçado de uma hora, como forma de pressionar a empresa. Segundo o presidente do Sindipetro-PR/SC, Silvaney Bernardi, a categoria foi "forçada a acirrar" a pressão, uma vez que a empresa não atendeu a nenhuma das exigências da categoria. De acordo com ele, os trabalhadores aceitaram reduzir a pauta de reivindicações, mas não houve acordo.
"Quase chegamos a um acordo, em um patamar mínimo de segurança, mas não foi possível avançar. Nós rebaixamos as nossas reivindicações para questões emergenciais e não fomos atendidos", afirma. "Ficou claro que não há interesse em melhorar a política de segurança na refinaria".
Na sexta-feira (13) a Agência Nacional de Petróleo (ANP) havia informado que a refinaria voltaria a operar com dois terços da carga usualmente processada. O órgão regulador não especificou, no entanto, quando seria essa retomada.
No fim de novembro, a Unidade de Destilação U-2100 da refinaria teve o funcionamento paralisado em consequência do acidente seguido de incêndio ocorrido no dia 28 de novembro. Desde então, a produção na refinaria, conforme informações do sindicato, é normal apenas no setor de tancagem, onde é estocado parte da gasolina e do diesel. A Repar tem sido abastecida com combustíveis trazidos através de Paranaguá e São Francisco do Sul (SC).
De acordo com o Sindipetro-PR/SC, praticamente nenhuma das propostas feitas pela empresa que envolvem principalmente questões de saúde e segurança foi aceita pela Repar. Um dos únicos avanços na negociação teria sido o comprometimento em criar uma comissão de segurança, com a participação do sindicato, para acompanhar a manutenção da unidade danificada. No entanto, a entidade informou que o documento que tornará oficial os trabalhos do grupo deveria ter sido assinado na sexta, mas a Repar ainda não tinha assinado os papéis necessários até aquela data. "Não foi feita mais nenhuma proposta e o que temos é insuficiente", declarou o então o diretor do sindicato Anselmo Ruoso.
Segundo ele, além da implantação desta comissão, os trabalhadores também pedem a contratação de 400 novos funcionários para reforçar a segurança dos trabalhos; a formação de uma brigada de emergência formada exclusivamente por bombeiros [hoje, parte da brigada é formada funcionários da empresa]; melhorias no sistema de monitoramento biológico dos trabalhadores, expostos ao composto hidrocarboneto; e melhoria nos laboratórios de análises.
Até que as exigências sejam cumpridas pela refinaria ou que os trabalhadores decidam de vez parar os serviços, os funcionários de todas as sessões da empresa estão entrando para suas jornadas de trabalho com atraso de uma hora.
A reportagem entrou em contato com a Repar no fim desta tarde para ouvir o que a empresa tem a dizer a respeito da situação, e aguarda retorno.
Volta aos trabalhos
Inicialmente, a Repar vai operar com dois terços da carga usualmente processada quando retomar a produção, afirmou uma autoridade do órgão regulador brasileiro. A produção plena da refinaria da Petrobras não poderá ser atingida logo porque uma das colunas da unidade de destilação está danificada, bem como o condensador, equipamento que faz o resfriamento nesta etapa do refino, afirmou o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Waldyr Martins Barroso.
A previsão da Petrobras é retomar as atividades na refinaria no dia 17 de dezembro a plena carga. "A situação de abastecimento está sob controle. O que estamos acompanhando é a obra na refinaria", afirmou à Reuters Barroso, que é responsável pela área de refino da agência.
Para a ANP, a causa do acidente já foi identificada: o uso de um tipo de aço inadequado, mais fraco para uma suportar as elevadas temperaturas de uma refinaria.
A Petrobras está importando mais derivados para dar conta de substituir a produção da refinaria, que responde por cerca de 10% do abastecimento do país.
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