A economia brasileira cresceu mais em 2011 do que foi inicialmente calculado. O Produto Interno Bruto (PIB, total da renda gerada num país) aumentou 3,9%, e não os 2,7% estimados antes, informou nesta quarta-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), após atualizar sua metodologia de cálculo, aderindo ao padrão internacional mais recente.
Centrais sindicais defendem recálculo do salário mínimo
- brasília
A revisão das taxas do PIB deve iniciar um novo cabo de guerra entre o governo Dilma e as centrais sindicais em torno do salário mínimo. Como o PIB serve de indicador de reajuste do mínimo, os aumentos salariais concedidos nos últimos anos foram inferiores aos resultados atualizados do PIB.
Segundo o estudo técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo de 2013, que foi reajustado pelo PIB de 2011, deveria ter sido de R$ 686,31 e não de R$ 678,00, como efetivamente vigorou naquele ano. Quando os PIBs dos anos de 2012 e 2013 também forem revisados pelo IBGE, que promete essa atualização para novembro deste ano, as diferenças vão aumentar. Uma das ideias das centrais é somar essas discrepâncias no salário mínimo nos últimos três anos e cobrar do governo federal que seja incorporado ao reajuste de 2016.
Apesar da expectativa pela revisão metodológica, que poderia melhorar significativamente a variação ano a ano, a mudança foi maior em termos de valores correntes do que nas taxas de crescimento. A alta em 2010 foi ajustada de 7,5% para 7,6%. Na média anual, a diferença também é pequena: o crescimento de 2000 a 2011 saiu de 3,5% para 3,7% ao ano.
Economistas evitaram refazer projeções, mas confirmam a probabilidade maior de que a economia tenha ficado estagnada em 2014 e fadada à recessão este ano – o número definitivo será divulgado no próximo dia 27, já sob a nova metodologia.
“Na média, a variação foi bem pequena e ficou concentrada em 2011”, disse Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, o dado de 2011 sofreu uma alteração mais forte porque não havia sofrido nenhuma revisão anterior e foi calculado apenas com os números preliminares do PIB trimestral, ao contrário dos anos anteriores.
A percepção é que a mudança no cálculo terá menos impacto em termos de variação do PIB nos anos recentes e mais implicações nas contas públicas. O PIB de 2011 em valores correntes foi revisado de R$ 4,143 trilhões para R$ 4,375 trilhões. Já o PIB de 2010 foi revisto de R$ 3,770 trilhões para 3,887 trilhões. Em média, com a revisão, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011 ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga.
Opinião: “Novo” PIB não é manobra
De tanto o governo Dilma fazer mágica com a contabilidade das finanças públicas, pouca gente ainda leva a sério os números divulgados pelo Planalto. Mas é injusto estender ao trabalho do IBGE a justa desconfiança com que se via o trabalho do Tesouro Nacional nos tempos de Arno Augustin
Leia a matéria completaComo o tamanho da economia cresceu em valores absolutos, mudam também indicadores baseados no PIB, como a proporção da dívida pública e o superávit primário das contas do governo. “Se de um lado [o aumento no PIB em valores correntes] ajuda a percepção sobre a relação entre dívida e PIB, que fica menor, por outro lado torna um desafio maior atingir a meta de superávit primário”, disse André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual. A LCA Consultores calcula que a meta fiscal estabelecida em 1,2% do PIB para 2015, que hoje corresponde a R$ 66,3 bilhões, deverá passar a pouco mais de R$ 70 bilhões.
Investimento maior
O investimento foi o principal segmento a turbinar o PIB. Com a inclusão de mais itens considerados como investimento, (entre eles, pesquisa e desenvolvimento e prospecção mineral) a taxa de investimento (proporção dessa categoria em relação ao valor do PIB) mudou. Em 2011, passou de 19,3% do PIB na série original para 20,6% na revisada. O porcentual de 2010 mudou de 16,5% para também 20,6% em 2010.
Construção, energia e saúde influenciaram o resultado maior de 2011
- rio de janeiro
As atualizações no cálculo do PIB que mais influenciaram a forte elevação no crescimento de 2011 foram os acréscimos de informações sobre a indústria da construção civil, a produção de energia elétrica e detalhamento de dados da saúde. Os motivos foram destacados pela coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, mas analistas chamaram atenção também para a contribuição da consolidação de dados de serviços e comércio, além da indústria. “Antes a gente considerava que a construção civil evoluía de acordo com os principais insumos consumidos. Como a mão de obra tem um peso muito relevante nesse setor, agregamos esses custos na medição”, explicou Rebeca.
O PIB da indústria da construção civil teve uma das maiores revisões. Antes, o crescimento em 2011 havia sido de 3,6% e aumentou para 8,3%. Com isso, o crescimento do PIB industrial como um todo, que havia sido calculado em 1,6%, passou para 4,1%. No PIB de serviços, com o maior peso no total, a revisão do crescimento de 2011 foi de 2,7% para 3,4%.
No caso da produção e distribuição de energia elétrica, o IBGE passou a levar em conta o custo maior de geração com o acionamento das usinas termelétricas. Quando as térmicas são acionadas, o PIB fica menor. Se são desligadas, o PIB aumenta. Em 2011, as usinas termelétricas foram menos acionadas do que em 2010. Por isso, o PIB desse setor cresceu mais do que o inicialmente calculado.
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