Em tempos em que a crise financeira impulsiona demissões pelo país foram 654 mil vagas fechadas em dezembro, segundo dados do Ministério do Trabalho divulgados na segunda-feira (19), receber o dinheiro do seguro-desemprego é um "alívio" bem-vindo para quem perdeu o emprego.
Especialistas, no entanto, alertam: acomodar-se temporariamente no benefício em busca de uma pausa da rotina de trabalho é um caminho perigoso e que resulta em perdas para a vida profissional. A prioridade, segundo eles, deve ser sempre voltar a trabalhar o mais rapidamente possível.
"(O seguro-desemprego) não deve ser encarado como um salário; é apenas um benefício temporário para aquela pessoa que não encontra uma vaga mesmo, é para arcar com os custos de se achar um novo emprego", explica Sabrina Alexandrino, supervisora geral do seguro-desemprego do Centro de Apoio ao Trabalho (CAT), da Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo.
Segundo ela, o foco do trabalho nas unidades do CAT, na capital paulista, é o de sempre orientar o trabalhador a não parar de procurar emprego por um dia sequer. Em alguns casos, há resistência. "Às vezes tem o trabalhador que não quer aceitar uma vaga, quer receber as parcelas antes", diz a supervisora.
Parcelas de volta
Nos casos em que o medo de aceitar uma vaga é motivado pelo medo de ser demitido novamente da nova empresa, há uma boa notícia.
Se, depois de dar a entrada no pedido do benefício o trabalhador encontrar uma nova vaga, poderá voltar a receber as parcelas caso seja demitido em um período de até 16 meses.
"Se ele for para uma vaga interessante e for dispensado antes de 16 meses, ele tem como resgatar o pedido que era de direito dele", diz Sabrina Alexandrino, do CAT.
Nesse caso, o trabalhador deverá dar a reentrada no seguro-desemprego e começar a receber seu saldo de parcelas, ou seja, o benefício de onde tinha parado antes de aceitar o emprego.
Vantagens do trabalho
Mesmo que as vagas disponíveis não sejam tão atraentes ao trabalhador à primeira vista, há que se levar em conta as desvantagens do período de "geladeira" profissional.
"Existe uma série de prejuízos em ficar sem trabalhar. Primeiro que, empregado, você tem a chance de ser promovido, melhor aproveitado; segundo que você continua aprendendo, atualizando currículo", diz Fernando Calvet, vice-presidente da Associação Brasileira da Empresas de Serviços Terceirizáveis e Trabalho Temporário (Assertem).
"Sem contar que você não ganha 13º salário, férias, FGTS. Além do seu enriquecimento pessoal, se sentindo útil, produzindo", diz.
Quanto mais o tempo passa, mais difícil é conseguir recolocação, segundo Sabrina Alexandrino, do CAT. "Às vezes o trabalhador recusa um emprego, recebe as cinco parcelas do benefício e volta interessado na vaga. Aí não tem mais", diz.
Qualifique-se
Para especialistas, um bom aproveitamento do tempo e do dinheiro do seguro-desemprego é investir em qualificação. Nos CATs de São Paulo, por exemplo, são recomendados cursos e atividades que o trabalhador pode fazer para se tornar mais atraente profissionalmente.
"Se eu estou atendendo um candidato e ele não tem dentição, por exemplo, recomendamos tratamentos gratuitos. Se ele não tem currículo, o encaminhamos para palestras sobre o assunto", diz Sabrina.
Temporário vale a pena?
Apostar em um trabalho com tempo certo para terminar pode ser uma boa alternativa ao recebimento do seguro-desemprego, segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Empresas de Serviços Terceirizáveis e Trabalho Temporário (Assertem), Fernando Calvet.
"O trabalho temporário é um caminho com a vantagem de que, se não é ainda aquilo o que o trabalhador quer, ele pode a se desligar a qualquer momento sem ter que cumprir aviso prévio por parte da empresa", diz.
Além disso, uma vaga de curta duração pode esconder boas oportunidades. "Em geral, por trás do trabalho temporário está um grande contratante. É a oportunidade que o trabalhador tem de estar de frente com grandes conglomerados, com a oportunidade de ser aproveitado no futuro", afirma.
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