O mercado de trabalho parou de absorver o número cada vez maior de pessoas que buscam trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do país. Pelo contrário, há registro de demissões, e o resultado dessa combinação é o aumento da taxa de desemprego para 6,2% em março – a maior desde maio de 2011, informou nesta terça-feira (28) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve ainda uma queda de 2,8% na renda média real dos trabalhadores ante fevereiro, o maior tombo mensal desde janeiro de 2003.
A perda do poder de compra pode levar mais pessoas a sair em busca de uma colocação. “Se a pessoa precisa compor renda, ela pode se sujeitar a trabalhar por um salário menor”, disse Maria Lúcia Vieira, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Isso pode fazer com que pessoas aceitem trabalhos menos qualificados”, afirmou.
Uma parte na queda dos rendimentos é provocada pela inflação, que registrou em março a maior alta para o mês desde 1995. Outra parte, porém, é fruto de pagamentos menores em termos nominais. “São de fato pessoas recebendo remunerações menores em seus trabalhos. Não temos como afirmar se é menor poder de barganha do trabalhador, se são as pessoas que foram demitidas e acharam outra vaga com salário menor, ou se as pessoas estão se inserindo no mercado de trabalho já com remuneração mais baixa”, explicou a gerente.
Em termos anuais, a renda real também teve uma baixa recorde, a mais intensa desde fevereiro de 2004. A perda de 3% ante março do ano passado espalhou-se por todas as atividades, da indústria aos serviços. “Não há uma atividade ou posição que se destaque. Todos parecem ter perdido um pouco”, disse Maria Lúcia.
O mais preocupante é que a soma de todas as remunerações dos trabalhadores – a chamada massa de rendimento real – também encolheu em todas as comparações. “Isso pode agravar o processo recessivo. O corte da massa de renda terá reflexo no sentido de reduzir a demanda das famílias”, alertou o economista João Sabóia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, percebe o resultado como consequência do ajuste promovido pelo governo. “Esse efeito vai ser ainda mais forte até o final deste ano”, previu. “O remédio é amargo.”