Na falta de um emprego fixo, eles encontraram nos bicos uma forma de pagar as contas do dia a dia. Nem sempre o dinheiro é suficiente, mas ajuda a manter a dignidade do trabalhador enquanto não consegue uma ocupação mais estável. É o caso de Felipe Renan Gomes, de 23 anos. Com dificuldade para conseguir um novo emprego, o técnico de informática partiu para o mundo dos bicos.

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Condições para negociar salário melhorou em novembro

O poder de barganha dos trabalhadores brasileiros na hora de negociar seus salários subiu pelo segundo mês consecutivo em novembro, mas permanece nos níveis mais baixos desde meados de 2011. A informação é do levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base em dados da empresa de recrutamento online Catho, divulgado em primeira mão pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

A relação entre o número de vagas por candidato avançou 2,7% na passagem de outubro para novembro, mas, apesar da melhora, o índice acumula quedas de 29,7% nos onze primeiros meses do ano e 35,2% na comparação com novembro de 2014. O nível é similar ao de quatro anos e meio atrás e indica que, com menos vagas disponíveis no mercado de trabalho, os empregados têm menos chances de conseguir vagas e salários melhores enquanto os patrões ficam em condições mais vantajosas ao negociar com funcionários ou candidatos.

A melhora na relação do número de vagas por candidato em novembro tem relação direta com a maior oferta de oportunidades de trabalho. No mês, houve acréscimo de 3,3% no número de novas vagas de emprego ante outubro, segundo a pesquisa Catho-Fipe. Este é o único dado com resultados disponíveis também referentes a dezembro. No último mês do ano, a quantidade de novas vagas de emprego cresceu 1,3% em relação a novembro. Apesar da alta na margem, no acumulado de 2015, as novas vagas de emprego diminuíram 12,7% e, em relação a dezembro de 2014, o recuo foi de 5,2%.

“Faço tudo que está relacionado à informática. Se alguém tem dificuldade para se conectar a internet, por exemplo, vou até casa dele, resolvo o problema e recebo na hora.” A remuneração é bem menor comparada aos tempos de carteira assinada, mas dá para pagar as despesas do cotidiano.

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Desempregado há quase quatro meses, ele divide o tempo entre a busca por um novo emprego e os trabalhos esporádicos, muitos deles conseguidos por intermédio do site Bicos Online. “Não estou desesperado, mas não tenho estabilidade financeira. Nunca sei quanto vou ganhar num mês.” Segundo ele, as vagas disponíveis hoje são muito ruins e pagam bem abaixo do salário anterior.

Bruna Ribeiro, de 25 anos, também tem enfrentado obstáculos para conseguir uma nova colocação. Ela cursava Relações Internacionais e era estagiária de licitações numa empresa farmacêutica. Quando engravidou, trancou a faculdade e saiu do estágio. “Optei por ficar um ano com meu filho, mas aí, quando tentei voltar ao mercado de trabalho, tive muita dificuldade.”

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Ela conta que, desde outubro, vem mandando dezenas de currículos, e não apenas em sua área - também tenta vagas como recepcionista e assistente administrativa. “Consegui uma oportunidade em outra farmacêutica, mas logo a vaga foi congelada.”

Com as portas fechadas, Bruna se inspirou numa tia e decidiu fazer algo por conta própria. “Eu já estava ajudando a divulgar os trabalhos de crochê da minha tia, e acabei gostando. Foi aí que eu comprei uma máquina e decidi fazer meus próprios trabalhos.” Ela começou a colocar fotos de suas toalhas, panos de prato e centros de mesa na internet - e as encomendas vieram sem demora. “Não achei que fosse vender tanto. Esperava ganhar uns R$ 300, mas consegui mais de R$ 2 mil.”

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A preocupação de Bruna, no entanto, é manter o ritmo de encomendas após as festas de fim de ano. “Resolvi diversificar e fiz um curso de pão de mel, pois é algo que vende o ano todo”, diz. Ela não pretende largar os bicos tão cedo. “Mesmo se conseguir emprego, vou manter as costuras e os pães de mel como um complemento na renda.”

A situação de Amanda Luiza Pindori de Souza, de 37 anos, é bem pior. De repente, a professora particular de inglês, mãe de duas crianças pequenas, se viu sem alunos e com o marido desempregado. “Numa crise, a primeira coisa que cortam são os gastos com educação”, afirma ela, que já trabalhou como secretária no passado.

Com a chegada dos filhos, decidiu reduzir a carga de trabalho e dar aulas particulares. Chegou a ter 12 alunos, o que lhe rendia uma boa remuneração mensal. Mas, além de uma mudança de cidade, veio a crise. Os alunos foram rareando. Primeiro caiu para três, depois para um e agora nenhum. Nesse ínterim, o marido, engenheiro de materiais, perdeu o emprego. Para conseguir algum dinheiro, os dois estão fazendo bico.

Ela vende lingerie, Tupperware e suplementos alimentares. O que ganha é mínimo. “Não sou uma boa vendedora. Se uma pessoa diz que não gosta de uma coisa, não insisto.” O marido conseguiu um bico numa empresa três vezes por semana e ganha menos da metade do que ganhava antes. “Vivemos da ajuda de parentes e amigos. Ganhamos uma cesta básica e temos contribuição para o aluguel.”

Sucesso

O que para muitas pessoas é um drama, para William Santos foi uma oportunidade. Ao ficar desempregado há um ano e meio, o eletricista começou a fazer bicos e a pegar tudo que aparecia pela frente. A renda mensal saltou de R$ 1,8 mil para R$ 5 mil. Comprou carro novo e agora guarda dinheiro para adquirir a casa própria. “Faço tudo que está relacionado a reformas. Se não é minha especialidade, chamo alguém que sabe fazer, mas não abro mão do trabalho.”

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