Conselheiro da entidade Anjos do Brasil, o empresário Marcelo Amorim tem experiência de sobra – nos últimos anos, fundou e desenvolveu quatro empresas nas áreas de software e serviços, que acabaram adquiridas por multinacionais e fundos de investimento. Hoje, atua em Florianópolis como investidor-anjo por meio da Jacard Investimentos e do Fundo Sul Inovação, com foco nas áreas de inovação e tecnologia. Durante a passagem pelo Fórum Internacional iCities, que ocorreu quinta-feira (3) em Curitiba, Amorim falou com a Gazeta do Povo sobre o ecossistema de startups e o amadurecimento dos novos empresários de tecnologia.
Há um boom hoje de startups no país, com jovens empreendedores afoitos por recursos para bancar suas ideias. Esse cenário traz um desafio extra para os investidores, para escolher em quem apostar?
Todo investimento, seja para uma empresa nascente ou em estágio avançado, é basicamente um investimento em ideias e pessoas. No início da vida de uma startup é um investimento em jóqueis, e não em cavalos. Não há nenhum caso de investimento no mundo, em startups, que funcionou direito mesmo as pessoas não sendo boas. Boas pessoas fazem uma ideia média ficar boa. Más pessoas fazem uma ideia ótima ficar muito ruim. Então é essencialmente um investimento em pessoas.
A reclamação sobre a dificuldade de acesso a recursos é comum entre “startupeiros”. Há hoje investidores em número suficiente para bancar essas novas empresas?
Nos últimos cinco anos, falando mais de investimento anjo e fundos de capital semente, o mercado brasileiro quase triplicou. Hoje são 7 mil investidores-anjo no país. De julho de 2014 a julho de 2015, a Anjos do Brasil investiu R$ 780 milhões. É muito dinheiro, ainda mais considerando que há cinco anos a média ficava abaixo de R$ 50 milhões. Tivemos uma mudança brutal no cenário de investimento de capital semente no Brasil. Não é suficiente ainda, mas é uma mudança radical nesse ambiente.
Todo investimento é basicamente um investimento em ideias e pessoas. Boas pessoas fazem uma ideia média ficar boa. Más pessoas fazem uma ideia ótima ficar muito ruim.
E os novos empreendedores estão mais maduros para vender essas boas ideias?
Há cinco anos, o nível do empreendedor brasileiro era muito baixo. E isso mudou radicalmente. Mudou muito a cabeça do empreendedor, que começa a entender melhor o que é ter um investidor, qual a necessidade da ideia dele ser sólida. Ele começa a ter uma abertura que antes não existia, de que a sua ideia pode ser global e não simplesmente local. Esse amadurecimento se deveu a vários fatores, mas principalmente à educação, a todo o trabalho que entidades como o Sebrae, investidores, aceleradoras, incubadoras, órgãos públicos de fomento, fizeram nos últimos anos. Isso tudo melhorou muito o nível do empreendedor.
Isso reforça a importância de um ecossistema local que fomente o surgimento e desenvolvimento de novos negócios. Como integrar esses diferentes atores para que isso ocorra?
O ecossistema sabe trabalhar, o livre mercado funciona bem, mas tem que haver uma coordenação. Não pode existir um fundo de investimento que não se relaciona com universidades ou aceleradoras. Não adianta agências de fomento puxarem para um lado e incubadoras para o outro. Isso tudo precisa funcionar de forma integrada, é o grande ponto.
Muito se fala da necessidade de políticas públicas, mas qual o papel do setor privado neste contexto?
Mesmo com todo o esforço que vários municípios e agências estão fazendo pensando nas cidades do futuro, mais acessíveis e humanas, acredito que o grande vetor de impulso é a economia privada. O que muda realmente uma nação são os negócios privados de grande densidade. Uma empresa pode fazer uma doação de alguns milhares de reais para uma ONG, por exemplo, o que terá um efeito importante. Mas essa empresa irá impactar muito mais se ela crescer em cinco anos 100%, gerando empregos, movimentando fornecedores. As duas coisas devem existir, mas a última tem um impacto mais relevante.