O texto do fator previdenciário inserido na Medida Provisória (MP) 664, prevista para ser votada nesta terça-feira (26) no Senado, virou motivo de queda de braço entre líderes do governo e do PMDB. Do lado da bancada do partido, há o receio de que, se o governo conseguir manobrar no plenário e pôr a votação da matéria somente após a discussão de outras duas propostas do ajuste fiscal, o desgaste de o fator previdenciário não ser votado recairia sobre a legenda.
Atualmente, a pauta de votação da Casa prevê a seguinte ordem: MP 665, que restringe acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial; MP 664, que trata de mudanças na Previdência e no fator; e MP 668, que trata do aumento das alíquotas de Programa de Integração Social (PIS)/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) de produtos importados.
Desde a última semana, integrantes do governo têm orquestrado nos bastidores uma manobra para ser aplicada no plenário colocando por último a votação da MP 664. Nos cálculos de alguns líderes governistas, em razão da longa discussão que deve ocorrer em torno das propostas, a que cria uma alternativa ao fator previdenciário poderia não ser votada a tempo e, dessa forma, perderia os efeitos.
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Leia a matéria completaCorrida contra o tempo
As MPs 665 e 664 perdem a eficácia na segunda-feira (1). Assim, a administração federal se livraria do desgaste de um possível veto da presidente Dilma Rousseff na questão do fator previdenciário. Diante desse cenário, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), entrou em campo em busca de apoio para tentar impedir a manobra.
O receio é que, ao ser “complacente” com a estratégia do governo, os desgastes da não votação do fator recairia sobre a bancada. A decisão de tentar impedir a inversão da ordem de votação foi discutida no almoço com integrantes da bancada do PSD. “Não terá inversão. Vamos votar como está previsto”, afirmou o líder do PSD na Casa, Omar Aziz (AM), após o encontro.
De acordo com Aziz, apesar da queda de braço, o clima é favorável pela aprovação das matérias. “Não podemos brincar. Não é momento de apostas. Temos de dar um crédito ao governo”, ressaltou. “Não terá inversão. Vamos votar. Vai ter algum embate com a oposição, mas vamos votar”, afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que participou do almoço e, mais cedo, do café da manhã realizado pelo vice-presidente Michel Temer, em que também foram discutidas as votações das propostas.
Ligações
Na véspera das discussões em plenário dos projetos que tratam do ajuste, Dilma ligou nesta segunda-feira (25) para o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Ela embarcou no mesmo dia para o México e deve retornar nesta quarta-feira (27) ao país. Calheiros e Dilma estão em atrito desde que o nome dele foi inserido na lista de supostos envolvidos no esquema da Operação Lava Jato.
O telefonema teria ocorrido por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com a presidente em Brasília, na sexta-feira (22). O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também ligou para o presidente do Congresso antes do início das votações em plenário. De acordo com integrantes da base aliada, a informação foi dada por Mercadante ao participar do café da manhã promovido nesta terça-feira por Temer.
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