As atividades que tiveram destaque no desempenho do varejo em junho estão sendo beneficiadas não apenas pela abundância de crédito, mas também pela queda nos preços. A comparação entre os resultados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do primeiro semestre e os dados do comércio varejista divulgados nesta quinta-feira(14) mostram que os segmentos com melhores desempenhos estão registrando deflação em 2008.
O segmento de móveis e eletrodomésticos, que teve a principal influência de alta (2,5 ponto porcentual) no aumento de 8,2% nas vendas do varejo em junho ante igual mês do ano passado, apresentou queda de preços no primeiro semestre. De acordo com o IPCA, houve deflação de 0,89% nos eletrodomésticos nos seis primeiros meses do ano.
Os equipamentos de informática, principal produto da atividade campeã em magnitude de expansão no varejo em junho e no primeiro semestre (equipamentos e materiais para escritório e informática, com alta de 40,1% em junho e 30,9% no semestre), também mostraram deflação significativa (-5,83%) no IPCA do semestre.
A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, atribui as deflações apuradas nesses itens à contribuição do dólar para o recuo de preços, já que há aumento de importações de produtos acabados ou componentes. A análise é compartilhada pelo chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. Segundo ele, "o dólar deve ter levado a essas deflações".
O economista da CNC ressalta que, mais que os preços, o crédito tem sido o fator preponderante para o ótimo desempenho nas vendas dos bens de consumo duráveis, mas avalia que o efeito preço também tem sido importante para manter o vigor no crescimento das atividades cujos artigos têm registrado deflação, como móveis e eletrodomésticos.
A queda nos preços é também um dos principais fatores a elevar as vendas de combustíveis e lubrificantes, atividade que registrou aumento de 12,8% nas vendas de junho, acima da média do comércio (8,2%). De acordo com os dados do IPCA, os preços da gasolina registraram deflação de 1,21% no primeiro semestre, enquanto os do álcool caíram 3,22% no período.
O técnico da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Reinaldo Pereira, atribui os resultados positivos dessa atividade ao crescimento da economia e da frota de veículos e, sobretudo, à retração nos preços.
Fôlego
Para Thadeu de Freitas, mesmo com o recente de movimento de pequena alta na cotação do dólar em relação ao real, os preços "ainda deverão ajudar as vendas de móveis e eletrodomésticos" pelo menos até o final deste ano. Segundo ele, o impacto benéfico dos preços deve prosseguir não apenas sobre esses segmentos cujos produtos estão em deflação, mas também no varejo de alimentos, que registrou em junho impacto negativo da disparada dos alimentos que, no entanto, já mostra recuo nos recentes índices inflacionários.
"As taxas de juros estão subindo e os preços não estão subindo mais", disse Thadeu de Freitas sobre a elevação do patamar de elevação dos juros, em 0,75 ponto, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo ele, diante dos atuais resultados dos índices de preços e do comportamento das commodities e da economia em nível global, é esperado que o Banco Central retome o patamar de aumentos de 0,50 ponto na Selic.
Para o economista da CNC, independentemente da alta dos juros, o varejo deve se manter em velocidade acelerada de crescimento até o final deste ano, acumulando alta de 9% a 10% das vendas em 2008. Porém, a expectativa é que, por causa das altas na Selic, a expansão desacelere, enfim, no início de 2009.