Em Minas Gerais funciona a escola pública com o melhor ensino médio do país, segundo o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008. O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa - Coluni -, na Zona da Mata mineira, é o terceiro da lista do MEC. A diretora da instituição, Eunice Bohnnenberger, credita o resultado à estrutura da escola e à qualidade dos funcionários.
- É o resultado de um trabalho de dedicação dos professores, funcionários e, principalmente, dos nossos alunos, que são muito bons. Sempre nos colocam entre os melhores em avaliações e olimpíadas de matemática e física.
Para a diretora, o fator que pode ter feito diferença na avaliação do MEC é a disponibilidade dos professores.
- O professor dá as aulas do dia, mas o restante do tempo fica na escola, atendendo alunos e preparando as aulas seguintes. Ele tem um gabinete de trabalho. Tem monitores também, que são estudantes da universidade que ajudam os alunos do ensino médio - conta Eunice.
Na maior parte das vagas, não há exigência de mestrado ou doutorado, mas a seleção é tão concorrida que os educadores que possuem mais títulos levam a melhor. O salário é de R$ 2,5 mil para o início de carreira.
Os alunos fazem um vestibular para entrar na escola. Em 2008, cerca de 1.500 candidatos concorreram às 150 vagas.
No Ceará, desinteresse pelas provas
O Ceará teve um dos piores desempenhos no Enem. Pelo menos três escolas da rede estadual estão entre as que registraram as piores avaliações no ranking nacional. No entanto, especialistas em educação dizem ser precipitado concluir que o ensino médio cearense é um dos piores do Brasil.
Para o ex-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação Roberto Cláudio Bezerra, o resultado pode estar "contaminado" pela baixa participação de alunos no exame, que é voluntária.
Para ele, o desinteresse pode estar relacionado ao fato de a UFC, que baliza o processo de preparação do ensino médio, não usar o Enem no processo seletivo. Outras instituições como a Uece, que é estadual, e faculdades privadas também não exigem o Enem.
O Enem só é usado por instituições privadas que participam do ProUni. Mas a Unifor, que representa um terço das vagas da rede privada, não participa do ProUni, por ser uma fundação sem fins lucrativos.
- O Enem no Ceará é um exame marginal. Os melhores alunos não precisam fazer o exame. Em outros estados, ocorreu o inverso - argumentou Bezerra.
- Na medida que o Enem foi excluído da seleção da UFC, alunos da escola privada perderam interesse de fazer o exame - concordou Cláudio de Albuquerque Marques, PhD em educação superior pela Universidade do Arizona e coordenador do Reuni na Pró-Reitoria de Gradução da UFC.
Os índios ficaram com a pior do Enem
A Escola Indígena Tekator, em Tocantinópolis (TO), ficou com a nota mais baixa no Enem 2008 em todo o país: 25,11, na média da prova objetiva e de redação. O colégio estadual funciona na aldeia Mariazinha, a cerca de 40 quilômetros de Tocantinópolis, ao norte de Tocantins, em área de reserva dos índios apinajé.
A diretora-regional de ensino em Tocantinópolis, Solange Guimarães Bitar, disse que o português é a segunda língua dos jovens, que aprendem a falar o idioma apinajé, do tronco Gê. Segundo Solange, parte dos professores é indígena. Ano passado, formou-se a primeiro turma da escola.
Bahia tem 11 entre as piores
A Bahia tem 11 entre as 50 piores escolas do país na lista do Enem de 2008. Os piores resultados do exame no estado foram registrados no município de Tucano (a 277 quilômetros de Salvador), pelo Colégio Estadual Heráclides Martins de Andrade, que teve a média 30,13, no segmento Educação de Jovens e Adultos (EJA). São pessoas com idade entre 18 e 45 anos, que estudam à noite e trabalham durante o dia.
A escola, que tem 600 alunos, obteve a 12 pior nota no país. O fato de os estudantes trabalharem e faltarem frequentemente foi apontado pelo vice-diretor, Ademir Oliveira, como causa determinante para o mau desempenho, além da falta de investimento dos governos. Ele também cita a deficiência de alguns professores.
- Nem todos os professores têm formação adequada. É difícil encontrar professores em algumas disciplinas - diz o vice-diretor.
Para a diretora do Colégio Estadual Dois de Julho, em Salvador, Margaret Gabian, o contexto social é o principal fator para o baixo rendimento. A escola atingiu 36,5 pontos no Enem. Problemas de tráfico de drogas, violência policial e familiar fazem parte do cotidiano dos alunos.
A coordenadora de Avaliação da Secretaria Estadual de Educação, Diana Picolo, disse que os investimentos em educação vêm aumentando, mas os resultados demoram.
Colégio de Aplicação da UFPE tem só notas altas e elogios
Disputado por alunos da rede oficial e da privada - este ano foram 2.160 candidatos para 60 vagas do 5 ano do ensino fundamental -, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco não é uma escola pública comum: as reprovações não somam mais de seis por ano num universo de 420 alunos. Isso num estado onde o percentual de defasagem idade/série chega a 70%.
A instituição aparece no Enem entre os 14 melhores do país, com nota 76,68. O resultado não surpreendeu pais e alunos do CAP, que não economizam elogios ao colégio.
No CAP, os professores têm dedicação exclusiva. Duas vezes por semana, os estudantes cumprem jornada integral para atividades extracurriculares como música, artes plásticas, cinema e vídeo. Este ano, o colégio foi um dos vencedores do concurso internacional Minha Cultura+ Sua Cultura = ?, nos Estados Unidos, com o vídeo "Cores humanas", e teve menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Física. Premiações em olimpíadas de matemática, informática, química e astronomia são rotina.
- Numa escala até cem, a nota pode ser melhor. Vamos nos empenhar mais - afirmou o coordenador geral do CAP, José Carlos Alves.
Ele nem aceita elogios sobre o baixo índice de reprovação dos alunos. Para ele, o ideal é que não haja reprovação. Como o colégio está no campus da UFPE, o intercâmbio é grande com a universidade e outras instituições da Cidade Universitária, como o Ageu Magalhães, que é o centro da Fiocruz em Recife.
Bom para o estudante Emanuel Pedro de Albuquerque, de 16 anos, que está sendo treinado em microbiologia na Fiocruz, já que pretende estudar medicina. Ele acha o colégio "fantástico". Os alunos destacam, também, a independência dos professores para ensinar, diferentemente dos padrões estabelecidos em escolas particulares, estaduais e municipais.
- Os professores aqui têm liberdade para dar aula de acordo com o modelo que acharem melhor. Os professores incentivam a pesquisa, as atividades extracurriculares, e dispomos de uma biblioteca que muita escola particular não tem - diz Hugo de Moura, de 17 anos.
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