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Se antes os pais tinham só os encontros no portão da escola para conversar sobre o ensino dos filhos, agora estão usando grupos em redes sociais para continuar a troca de informações. Em colégios particulares de São Paulo, pais criaram grupos, principalmente no WhatsApp, aplicativo de mensagens instantâneas para smartphones, para combinar encontros entre os filhos e trocar informações sobre eventos e problemas da escola.

Pais criam apps para melhorar interação com escolas

Pai de dois filhos de 2 e 3 anos, Vahid Sherafat percebeu na dificuldade de comunicação das escolas uma possibilidade de negócio. Ele desenvolveu um aplicativo para celular e tablet que permite a comunicação instantânea entre pais e educadores.

Há um ano no mercado, o ClassApp já é usado em 20 escolas particulares, com custo anual de R$ 24 a R$ 30 por aluno. O aplicativo permite que os professores mandem recados sobre a lição dos filhos, comunicação sobre eventos e passeios. Também permite que os pais acionem diretamente cada departamento das escolas. “Elas pensam muito em como se comunicam com os pais, mas não pensam no caminho inverso, em facilitar que os pais procurem a escola”, diz Sherafat.

O empresário Sávio Grossi, que tem filhos de 8 e 4 anos, criou o Pertoo, que permite comunicação rápida e segura com os pais. Além de recados, o colégio também pode enviar fotos pelo aplicativo, já usado em 42 instituições. O custo inicial de implementação é de R$ 299 por mês.

Mas esses grupos também levaram à divulgação de boatos e conflitos entre os próprios pais e até mesmo com as escolas. Por causa dos mal-entendidos, os colégios adotam novas formas de comunicação, como aplicativos para contato exclusivo com os educadores, e estimulam encontros presenciais.

A escola Playpen Cidade Jardim, na capital, realiza cafés da manhã com representantes dos pais de cada série para tirar dúvidas surgidas nos grupos. “Normalmente, um pequeno problema toma grandes proporções com informações infundadas e, por isso, começamos a repensar nossa comunicação”, diz Daniela Leonardi, diretora da unidade.

Segundo ela, os grupos são formados principalmente por mães. “A gente sempre teve uma política de incentivar os pais a entrar na escola e eles costumavam conversar quando traziam os filhos. Essa presença física reduziu bastante, como se o WhatsApp tivesse substituído esse contato”, diz.

A hoteleira Ana Beatriz Vianna, de 40 anos, tem dois filhos que estudam na Playpen e participa de sete grupos diferentes. “Tem um grupo para cada série, um só para mãe de meninos do 5º ano, outro para mãe de meninas do 7º ano”, diz. Para ela, os grupos ajudam os pais a entender melhor os filhos - por exemplo, os termos usados por eles com os colegas, como o BV (boca virgem), dicas sobre onde comprar materiais didáticos e até confirmar a lição de casa.

Ela, porém, conta que às vezes “exageram” nas queixas. “Há uns dias criaram a maior polêmica sobre higiene da cozinha da escola e cuidados com alimentação porque um aluno achou um inseto na comida.”

Na escola Maple Bear Alto de Pinheiros, que atende crianças de 15 meses a 7 anos, a diretora Andrea Miranda Zinni conta que já foi procurada por vários pais que se ressentiram das conversas no WhatsApp. “Situações que tomamos cuidado para não causar conflito às vezes são expostas nos grupos, como, por exemplo, mães que vão tirar satisfação ou tentar descobrir quem deu uma mordida em seu filho, uma situação comum com crianças dessa idade.”

De olho

Já nas turmas de adolescentes, os grupos causam desconforto até mesmo com os alunos. A fonoaudióloga Liseane Faria Reinoso, de 49 anos, mãe de dois meninos de 14 e 17, diz que as mães trocam informações sobre festas, amizades e comportamento dos filhos. “Eles sabem que sei de tudo e que não adianta esconder. Às vezes não gostam, mas é a forma que temos para controlar.”

Ao mesmo tempo em que potencializam a participação das famílias, segundo especialistas, as redes sociais aumentam as chances de desentendimentos. E, como as mensagens são instantâneas, os pais podem não avaliar tão bem o que colocam no grupo. “Pessoalmente as pessoas censuram mais o que dizem e isso pode ser positivo para evitar conflitos”, diz Norma Sandra Ferreira, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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