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Leitura dinâmica é desacreditada por especialistas

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Basta dar um Google para encontrar milhares de cursos de leitura dinâmica que prometem resultados impressionantes de aprendizagem em pouco tempo. Apesar da grande demanda e oferta, um artigo publicado na revista especializada Psychological Science afirma que esse esforço não serve para nada. De acordo com os autores, não é possível duplicar ou triplicar a velocidade de leitura de um texto sem perder a compreensão do mesmo. E isso acontece porque o processo de leitura é muito mais complexo do que simplesmente treinar os olhos para deslizar rapidamente sobre as páginas.

Os cursos de leitura dinâmica, em geral, focam em exercícios para acelerar a velocidade ocular, utilizando muitas técnicas diferentes. Alguns ensinam a ler por blocos, caçar palavras-chave no contexto ou a priorizar ‘começo, subtítulos e fim’ pulando o resto. Outros optam por telas de leitura em que as palavras aparecem no mesmo campo, uma atrás da outra, na velocidade ajustada (alguns dispositivos começam com 200 palavras por minuto e podem ser acelerados progressivamente) – nesses casos, o leitor é encorajado a ler cada vez mais rápido com avisos de desempenho como ‘você está lendo mil palavras por minuto’, por exemplo.

O que não funciona para o aprendizado, segundo o artigo, é que a performance dos olhos corresponde a apenas 10% do sucesso do processo de leitura, o restante depende do mecanismo neurológico que está por trás. E esse mecanismo tem limitações fisiológicas e psicológicas específicas que exigem do leitor reler certas partes – as chamadas ‘sacadas’, que obriguem a estar mais tempo sobre o texto –, e a olhar as palavras ‘desde dentro’ para reter as informações na memória de longo prazo, ser capaz de entender os argumentos de fundo e reproduzi-los.

“Se você olhar por fora, você se guia pela mancha que forma a silhueta da palavra, mas isso só serve se você está procurando certa palavra no texto, ou seja, busca um padrão visual em um todo, isso diminui as ‘sacadas’ e torna a leitura mais rápida”, explica Aniela Improta França, professora do Programa Avançado de Neurociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Porém, se você está lendo um texto para compreensão, porque você vai responder perguntas ao final dele, a operação cognitiva é completamente diferente, aí você precisa ler dentro das palavras para ir montando o sentido do texto; essa leitura leva mais tempo”, continua.

O artigo também questiona os métodos de leitura dinâmica que ensinam a parar de pronunciar as sílabas internamente e estimulam os alunos a transformar as palavras em imagens. “Há evidências”, diz o texto, “de que o discurso interior desempenha um papel importante na identificação das palavras e compreensão durante a leitura em silêncio”. Isso pode ser essencial principalmente quando é preciso ler sobre um tema mais difícil. “A tendência é de achar mais fácil se tiver o apoio da pronúncia interna. Uma pessoa pode treinar para não ler internamente, mas eliminar esse apoio por completo pode trazer prejuízo”, diz Aniela França, da UFRJ.

Como alimenta apenas as memórias de breve e curto prazo, a leitura dinâmica tambéem não é suficiente para a memorização e apreensão qualitativa. “A leitura é um processo de construção de conhecimento que é o grande patrimônio a conquistar e transmitir, isso leva tempo, muitos anos de prática, para formar os arquivos de dados e informações que serão necessários para toda a vida e para isso não há atalhos”, lembra Ivo Carraro, psicólogo, professor do Positivo e especialista em neurociência.

Muitos cursos de leitura dinâmica apresentam técnicas para acelerar a leitura e a mágica que elas oferecem é sempre a de aumentar a taxa de leitura das palavras por fora em relação à taxa de leitura por dentro, eliminando a releitura. Mas existe um prejuízo na compreensão do que é lido. O que adianta ler rápido e não entender realmente o que está sendo lido?

Aniela Improta França professora do Programa Avançado de Neurociência da UFRJ

Útil para a vida prática

A leitura dinâmica é uma boa ferramenta em situações em que é preciso tomar um conhecimento rápido, ainda que superficial, de uma determinada circunstância. “É uma das habilidades úteis para a vida moderna, que pode dar um panorama rápido do que está acontecendo, por exemplo ao ler as manchetes dos jornais ou até em questões imediatas em meio empresarial”, diz Lígia Negri, professora de Linguística da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Mas não é suficiente para formação de conhecimento, de raciocínio e de uma consciência crítica”, explica.

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