Com o vestibular se aproximando, chegou a hora de fazer uma boa revisão. Não só dos conteúdos programáticos do ensino médio, mas também daqueles que não estão nas páginas das apostilas. Os processos seletivos mais modernos, você sabe, cobram dos candidatos o conhecimento de atualidades.
Ao longo de 2005, temas como a corrupção no governo ou os atentados terroristas apimentaram as discussões nas rodas de conversa e podem muito bem se transformar em questões de vestibular. Mas a complexidade desses assuntos e a velocidade das informações deixam qualquer um zonzo e com a cabeça cheia de dúvidas.
Por isso, a convite do Caderno do Estudante, da Gazeta do Povo, cinco alunos do curso Positivo formularam questões acerca de cinco tópicos atuais. Com a ajuda de especialistas, fomos em busca de encontrar o fio da meada. Fique atento, pois a dúvida deles pode ser a sua também.
RIO SÃO FRANCISCOPara que a região atingida pela seca realmente se desenvolva são necessárias várias medidas. Além da água, o sertanejo precisa de educação, conceitos de preservação ambiental e cidadania, além de programas para ensiná-los a trabalhar a terra de forma produtiva e sustentável. Sem isso o sertanejo não corre o risco de ser engolido pelos grandes empresários que, com dinheiro e tecnologia, comprarão as terras irrigadas a preço de banana?
Um projeto dessa envergadura, que está na ordem do dia há mais de um século no Brasil, certamente não seria consenso. Um dos pontos para reflexão é que existem milhões de pessoas atingidas constantemente pela seca e o foco da primeira etapa da transposição é garantir o abastecimento de água para o consumo. A irrigação nesse momento é secundária a água transposta poderá ser utilizada para isso, dentro das regras estabelecidas pela agência nacional das águas, desde que haja excedente.
Obviamente a infra-estrutura a ser construída valorizará as terras. O governo declarou parte delas como de interesse social. Com isso espera-se facilitar a desapropriação para implantação de projetos sociais, os quais necessitam de um conjunto de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável da pequena agricultura. Mas, como vivemos numa sociedade capitalista, onde, as regras de mercado se sobrepõem ao interesse social, haverá sim muita especulação fundiária sobretudo nas áreas mais férteis.
Adilar Antonio Cigolini é professor do curso de Geografia da UFPR.
TERRORISMOOs grupos terroristas existem há décadas e não se dava muito destaque a eles até o atentado de Nova York, em 11 de setembro de 2001. Se esse ataque tivesse acontecido em outro lugar, que não os Estados Unidos, teria marcado tanto assim? Por que acusar os fundamentalistas islâmicos? Até que ponto isso é verdade e quais as reais causas disso?
O atentado de 11 de setembro pôs na ordem do dia a questão do terrorismo justamente por atingir o centro do capitalismo mundial, ou seja, os EUA. E, não foi acaso que esse atentado aconteceu lá! Os EUA lideram uma forma de pensar o mundo e impõe, seja pela força da economia, pressões políticas ou a "ferro e fogo" mesmo, essa forma ao mundo todo, o que nem todo mundo gosta. Os fundamentalistas islâmicos têm uma visão do mundo não pautada em valores ocidentais, o que associada a ingerência estadunidense no mundo provoca reações, muitas vezes violenta, como foi o caso do atentado de 11 de setembro.
As reais causas da ação dos EUA após os atentados ainda é objeto de debate e dúvidas: petróleo? Defesa contra o terrorismo? De qualquer forma invadir um país sobre o pretexto de construir a paz é no mínimo questionável. Nesse debate, é bom que não confundamos a religião islâmica com grupos terroristas, como muitas vezes querem nos fazer crer.
Adilar Antonio Cigolini é professor do curso de Geografia da UFPR.
DESARMAMENTOO Brasil tem altos índices de criminalidade em que a participação das armas de fogo é significativa. Como fica agora a questão do Estatuto do Desarmamento, que já esta em vigor, depois dos brasileiros terem dito "não" à proibição da venda de armas? Para combater a criminalidade não seria necessário investir prioritariamente em educação?
Certamente que as armas têm uma participação significativa no aumento da criminalidade. Ao observarmos, por exemplo, o crescimento do envolvimento infanto-juvenil com o crime, observamos também como a questão da arma é algo inseparável de suas praticas criminais. Agora o fato do resultado do referendo ter sido "não à proibição", não significa a anulação do Estatuto do Desarmamento.
Os seis capítulos que o compõe é muito claro quanto a quem deve e pode ter o porte de uma arma, assim sendo, ele continuará em vigor e mais do que nunca pretende ser o norteador do controle de posse de armas. Por outro lado, é imprescindível que se formule políticas públicas voltadas essencialmente para a educação porque isso, no que se refere, fundamentalmente ao segmento infanto -juvenil carente, irá impossibilitar que sejam cooptados pelo crime.
Francisca Vergínio Soares é socióloga, doutora em Ciências Sociais pela PUCSP e professora da UEL.
CORRUPÇÃO O governo Lula vem sendo bombardeado por denúncias de corrupção. Todos os dias surgem novos escândalos e fica difícil compreender o que realmente está acontecendo. Os constantes escândalos dão a impressão de que este governo é mais corrupto que o anterior. Esse raciocínio é correto ou na verdade as ações estão mais "transparentes" e a corrupção aparecendo mais?
Não há instrumentos muito seguros para medir a extensão da corrupção dos governos, já que essa prática, por sua natureza, é sempre secreta ou dissimulada. O que há é uma percepção geral do grau de corrupção dos governos e dos governantes a partir da quantidade de "denúncias" na imprensa. Nesse sentido, o governo Lula não é mais transparente que os anteriores. O que ele é, ao contrário, é mais bem vigiado.
Isso se deve a dois fatores básicos: uma predisposição negativa da imprensa diante do governo (pense-se, por comparação, na tolerância extrema dos meios de comunicação mais críticos com os escândalos de compras de votos no governo FHC ou os negócios escusos durante os processos de privatização de companhias estatais); e um aumento da intolerância da sociedade com o emprego de meios ilegais ou favores ilícitos na vida política.
Adriano Nervo Codato, cientista político e professor da UFPR.
GLOBALIZAÇÃOA Geopolítica é a ferramenta para entender o mundo globalizado. Cada vez mais as ações diplomáticas e a economia dos países funcionam como um organismo único, jogando potências, países emergentes e nações pobres num mesmo balaio. A globalização favorece uma aproximação entre países de primeiro e terceiro mundos ou só aumenta o abismo entre eles?
Existem aspectos culturais, econômicos e políticos da globalização. Todos estão entrelaçados e ocorrem simultaneamente. Creio que a pergunta se refere mais ao aspecto econômico. O que temos visto é que está aumentando o abismo entre os países.
As nações desenvolvidas, que detêm a maior parte da riqueza mundial através da liberalização e do enfraquecimento do Estado dos países periféricos, conseguiram se apropriar ainda mais da riqueza e dos recursos existentes. Basta analisar a percentagem da participação das empresas transnacionais no PIB brasileiro, por exemplo, na última década e percebemos que houve um acréscimo considerável para aquelas empresas em detrimento do capital nacional.
Esse processo não aumentou somente a concentração entre países, mas dentro dos países, já que são apenas algumas partes dos países periféricos que se globalizam: aquelas dotadas de redes de infra-estruturas técnicas que servem as grandes empresas.
Adilar Antonio Cigolini é professor do curso de Geografia da UFPR.
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