A sala apertada e quase despercebida ao lado da quadra de esportes não impede que os alunos encontrem, a qualquer custo, o esconderijo do biólogo Cornélio Schwambach, 32 anos, professor do Colégio Bom Jesus, no Centro de Curitiba. A essa altura do campeonato, o assunto nas rodas de conversa com o mestre é invariavelmente o vestibular. A disputa por uma palavrinha é grande. A reportagem, inclusive, fez o "teste de popularidade" com o educador. Só no curto período da entrevista à Gazeta do Povo não mais de meia hora - três alunas, ansiosas, formaram uma fila para garantir "sua vaga". E era só o começo de uma longa jornada dia adentro.
Os encantos de Cornélio saltam aos olhos. Além da simpatia que ultrapassa os limites da Rua 24 de Maio com a Avenida Visconde de Guarapuava, onde se localiza o colégio, o professor que é pesquisador de adolescência, sexualidade e drogadição - parece viver as provas que se aproximam com a intensidade de um candidato à universidade. O passar dos anos não rouba sua energia de eterno vestiba. É sagrado. No dia do concurso, ele vai religiosamente aos locais de prova para abraçar sua turma e desejar boa sorte. "Muitos, quando me enxergam, já vêm com a pergunta básica: 'E aí, o que vai cair?'"
A presença de Cornélio nas imediações das provas já se tornou obrigatória. Se ameaçar não comparecer, é cobrado, afinal, é importante que a energia corneliana seja distribuída, faça chuva, faça sol. "Certa vez, uma aluna pediu que eu fosse a uma escola bem pequena em que iria realizar a prova. Cheguei a pensar se deveria ou não ir, já que o local ficava distante da cidade. Como sei que nessas horas o apoio de um professor vale muito, fui encontrá-la. É claro que a menina estava lá, aguardando meu apoio", relembra.
Cornélio pelo que tudo indica - faz das tripas coração para manter a postos sua pedagogia do afeto, método informal de apoio a quem precisa não só de conteúdo, mas de uma forcinha para muito além dos livros e apostilas. "Viver a realidade do vestibular junto com os alunos não é nada fácil", comenta o homem para quem não resta dúvida: a amizade é um santo remédio por si só e para assimilar o conteúdo. "Os alunos ficam muito tempo em sala de aula e em cima dos livros, o que dificulta o aprendizado e concentração", comenta, sobre a solidão de quem tem de vencer fórmulas, número, regras e conceitos em tempo recorde.
Para os que se encontram à beira de um ataque de nervos, o professor oferece a voz da experiência o que justifica a fila à espera próxima à quadra de esportes. Uma das dicas mais comuns é sobre como organizar tanto material de estudo sem se sentir perdido na selva. E ele não fica só no conselho. Na mesa de Schwambach os alunos criam um cronograma de estudos como se fossem estratagemas de guerra. "Primeiro, é importante analisar quais as disciplinas de maior peso, conforme o curso escolhido. Depois, organizar um horário 24 horas para conseguir acompanhar as aulas, almoçar, estudar à tarde, dormir e também separar uma horinha para o lazer."
Em tempo. O professor de Biologia não deixa fora do esquema de estudos a palavra lazer, tão importante quanto o resto, e aqui traduzida em atividades como andar, correr e praticar esportes em geral. "Nada de ficar no computador achando que vai relaxar", ensina. O manual de sobrevivência de Cornélio também passa por questões mais pragmáticas porém verdadeiras ciladas para qualquer vestibulando desavisado. Uma delas é jamais estudar na cama. "Já viu alguém ficar deitado e estudar direito? Já era."
Como ainda está para nascer aluno que consiga aproveitamento de 100% em todas as disciplinas, Schwambach aconselha trabalhar com mapas-conceito aqueles resumos de conteúdo específico, distribuídos em forma de tópicos, de preferência acompanhados de figuras que facilitem a memorização. É batata. "Os mapas são ótimos para serem colocados na cozinha, já que pela manhã normalmente a cabeça está tranqüila para observar e captar essas mensagens." O "mapa da mina" inclui ainda uma boa dose de conhecimentos gerais aqueles que os jornais e revistas oferecem a rodo todos os dias. Melhor escutar o Cornélio.
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