Monografias, artigos e trabalhos de conclusão de curso (TCC) geram calafrios em muitos daqueles que não veem a pesquisa como parte do futuro profissional. Na outra ponta, há quem encare esses desafios como rotina, envolvendo-se com estudos acadêmicos durante a graduação por meio de programas de iniciação científica.
Grande parte dos estudantes que escolhem esse caminho tem o objetivo de seguir carreira acadêmica e tornar-se cientista sem, necessariamente, assumir o estereótipo do pesquisador de laboratório e jaleco branco. Alunos de qualquer área do conhecimento podem participar de bons projetos e concorrer a bolsas de estudo para investigar e produzir conhecimento.
Fernando de Siqueira, 25 anos, é um desses apaixonados pela pesquisa. Aluno do 3.º ano do curso de Direito na Universidade Positivo (UP), ele participa do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PIC) desde o 1.º ano de graduação e, mesmo sem ser bolsista, diz estar realizado. Para ele, os tribunais, a interpretação das leis e a cultura jurídica viram objeto de estudo. "Estou aqui pela vontade de aprimoramento. A faculdade nos dá uma base geral sobre muitos temas, mas a iniciação científica é o melhor caminho para quem quer saber mais", conta.
Siqueira está envolvido com sua terceira pesquisa. Todos os estudos têm sido concluídos conforme um rigoroso cronograma, que estabelece o prazo de 12 meses para que cada aluno entregue sua produção. Ao longo desse tempo, é preciso apresentar relatórios sobre o andamento da pesquisa e manter contato com o professor orientador. Grande parte do trabalho Siqueira faz em casa, já que não há obrigatoriedade de atividade presencial no programa.
Pibic
Esse sistema é adotado por praticamente todas as universidades que aderem ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável pela concessão da maioria das bolsas de iniciação científica no país. Entre os objetivos específicos do Pibic estão o despertar da vocação científica, a articulação entre graduação e pós-graduação e a redução no tempo de formação de mestres e doutores, incentivando os participantes a prosseguirem continuamente os ciclos de educação, evitando intervalos longos entre essas etapas.
Embora o CNPq pague as bolsas, o processo seletivo é administrado pelas universidades, que normalmente não restringem o programa de iniciação científica aos bolsistas. A professora Leide Albergoni, responsável pela área na UP, conta que a maioria dos projetos é desenvolvida voluntariamente pelos alunos.
Outra modalidade
Inovação e tecnologia também têm espaço nos programas
Nem todo entusiasta da pesquisa se empolga com a produção de artigos ou com discussões teóricas. Diante disso, também há espaço para adeptos da inovação e de abordagens mais práticas em programas federais. Para esse público foi criado o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), cujo foco é fortalecer a capacidade inovadora das empresas no país.
"O Pibiti é mais voltado ao setor produtivo e para a resolução dos problemas no dia a dia", explica a professora Cleybe Vieira, coordenadora da Iniciação Científica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A distribuição dos auxílios, no entanto, segue o modelo do Pibic, no qual a seleção dos bolsistas é feita pelas instituições de ensino.
Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), por exemplo, assim que se estabelece o número de bolsas, um edital interno é lançado para que os professores solicitem a quantidade de alunos de que precisam para os projetos. "Como a demanda costuma ser maior do que o número de bolsas disponíveis, os pesquisadores mais experientes na formação de recursos humanos e na condução de projetos são selecionados como orientadores", explica o professor Gilson Sato, pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação.
Esses pesquisadores selecionam os bolsistas, geralmente, entre os alunos que já demonstraram interesse pelo projeto do professor. Os escolhidos decidem com o orientador um plano de trabalho e o executam.
O plano pode variar bastante, mas, no caso dos programas voltados à inovação, é comum a realização de experimentos e a construção de protótipos. No final do ano, os bolsistas apresentam seus trabalhos no Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica da UTFPR e redigem um relatório de suas atividades.