A falta de apoio do poder público tem feito com que pesquisas na área de Geologia permaneçam restritas ao ambiente acadêmico e desconhecidas por grande parte da população. Projetos idealizados por pesquisadores paranaenses com o objetivo de popularizar o conhecimento acerca de minerais, sítios geológicos e a formação do planeta chegaram a despertar o interesse de gestores, mas hoje encontram-se engavetados e sem perspectivas.
Exemplo emblemático desse tipo de abandono é o caso do Museu de Geologia e Paleontologia instalado no Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa. Construído em 2009, com o investimento de R$ 4 milhões vindos do governo estadual, o espaço nunca foi aberto ao público.
No ano passado, o projeto deixou de receber mais R$ 3,2 milhões do Ministério da Cultura por não haver um convênio assinado entre o governo estadual e a Fundação João José Bigarella (Funabi), parceira do projeto. De acordo com o idealizador do museu, o cientista paranaense João José Bigarella, esse era justamente o valor necessário para concluir a montagem da exposição.
Com acervo cedido pela Funabi, o objetivo do museu seria mostrar a grupos escolares e visitantes de Vila Velha detalhes sobre a evolução do planeta e a formação geológica da região, além de apresentar registros paleontológicos dos Campos Gerais, a biodiversidade da área e sinalizar as trilhas do parque. "A fundação emprestaria apenas o acervo. É uma pena que tenha ficado parado. Tem que ter muita fé para acreditar que o museu será aberto", diz Bigarella. Para o professor, a administração do espaço deveria ficar a cargo do governo estadual.
De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o governo estuda a constituição de uma parceria público-privada (PPP) para gerenciar o museu. A análise conta com a participação de técnicos da Sema, do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Secretaria de Planejamento. Não há prazo para que isso seja concluído.
Painéis
Outro projeto que deixou de ter o apoio do Estado é uma campanha de sinalização e identificação de sítios geológicos do Paraná, encabeçada por pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Desde 2012, os painéis que ajudam a explicar do ponto de vista geológico e paleontológico como era o território paranaense há milhares de anos deixaram de ser confeccionados e a manutenção dos já existentes foi suspensa. Em todo o estado, há cerca de 40 painéis explicativos que foram elaborados entre 2003 e 2012. Segundo o diretor-presidente da Mineropar, José Antônio Zem, não há previsão de se fazer mais murais. "Foi uma campanha. A missão já foi cumprida", comentou.
Os sítios geológicos paranaenses começaram a ser levantados pelo Serviço Geológico do Paraná (Mineropar) nos anos 1990, quando a Unesco recomendou que os países mapeassem seus cenários geológicos para compor um mapa mundial. Até hoje, cerca de 40 geosítios foram mapeados e acredita-se que ainda há muito território a ser explorado e descoberto. "Portugal tem um quarto da área do Paraná e tem cerca de 300 geosítios. No Paraná, acredito que deve haver em torno de uns 500 pontos", considera o geólogo da Mineropar Gil Piekarz.
Geoparque
Para levar o conhecimento geológico a uma gama maior de pessoas, os professores da UEPG propuseram a criação de um geoparque nos Campos Gerais. Um mapa geológico do município de Tibagi, que é considerado o mais representativo na região, foi confeccionado em 2010. A ideia de criar um núcleo de geoturismo em Tibagi foi apresentada à prefeitura, mas as negociações cessaram com a mudança de gestão em 2012. Contudo, parece que a vontade de criar o núcleo ainda existe. "Já recebemos estudantes de Geologia de várias partes do Brasil e nossa ideia é despertar o geoturismo", comenta a coordenadora de eventos da Secretaria Municipal de Turismo, Juliana Rezende Nogueira.