Jogo de cintura
"Além de toda a pressão em cima da entrega do TCC, a parte mais difícil é você conciliar seu tempo entre elaboração do trabalho, estudo para as aulas da grade curricular, família, amigos, esposa ou namorada. Se o trabalho for em equipe, demanda muito jogo de cintura dos integrantes para lidarem com toda a pressão que se passa nesse período."
Luiz, bacharel em Administração de Empresas.
Nove vezes
"Na hora de fazer o TCC descobri que o meu orientador não poderia ser a professora que me ajudou ao longo das aulas e, sim, outro que, além de eu não conhecer, não entendia do assunto do meu trabalho. Mesmo assim, ele pediu tantas alterações que precisei mudar nove vezes o trabalho final."
Jorge Luiz Dias Júnior, engenheiro especialista em Produção e Qualidade.
A estudante Mariana nome fictício está no último ano de Administração e, portanto, em época de fazer o trabalho de conclusão de curso (TCC), obrigatório para qualquer graduação, mesmo que em formatos diferentes. Quando entregou o projeto ao orientador, no começo do ano, teve uma surpresa.
A ideia de organizar um bar preparado para receber pessoas com necessidades especiais, idealizada desde o ano passado, não foi aceita pelo professor. Segundo ela, o orientador alegou que o empreendimento não teria mercado e, por isso, não valeria a pena investir no projeto. O docente sugeriu que o bar virasse uma chocolateria voltada ao mesmo público-alvo.
Mesmo decepcionada, Mariana teve de acatar a decisão do orientador e passará o ano inteiro em cima de um trabalho que não era bem o seu sonho, o que gera insegurança quanto ao resultado final. "Solicitei outro orientador. Infelizmente, meu pedido não foi atendido", afirma. O caso de Mariana virou polêmica no mês passado no blog Inclusilhado, de Rafael Bonfim.
Dificuldades
Assim como ela, muitos estudantes passam por diversas dificuldades durante a fase de TCC. Porém, existe um limite para que o trabalho não vire um pesadelo e o resultado final não seja ruim ou leve à reprovação. O erro assim como o acerto não é demérito exclusivo do aluno. O professor também é peça-chave do processo de produção do projeto e é tão responsável quanto o aluno pelo sucesso ou fracasso do trabalho. Confira os principais problemas que podem surgir nessa fase do curso e como lidar com eles:
Escolher o tema do TCC não é tão simples quanto parece. Não basta o aluno gostar de um assunto. É preciso que o orientador escolhido domine a temática ou que ela esteja dentro de uma de suas linhas de pesquisa. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, esse quesito deve ser seguido, embora a exigência seja mais forte na pós-graduação. O professor de Metodologia da Pesquisa em Ciência Política da UFPR Nelson Rosário de Souza diz que o curso ganha pontos quando a pesquisa na graduação está articulada com as linhas seguidas nos programas de mestrado e doutorado. Em instituições privadas, a escolha do tema é mais livre, mas também há limite. "Aconselhamos que o estudante pense em algo que será útil no mercado de trabalho. Não adianta pensar em projetos que nunca serão concretizados no Brasil", explica a professora de Pesquisa em Enfermagem da Faculdade Evangélica do Paraná Fabíola Schirr Cardoso. Ela aconselha que o aluno invista em áreas que carecem de pesquisa, afastando-se de temas já esgotados por inúmeros estudos.
Nem todas as universidades permitem que o aluno escolha o orientador, mas é importante que os dois tenham um bom relacionamento não necessariamente de amizade. "Se forem muito próximos, a orientação pode ficar comprometida, pois o professor precisa ser firme para cobrar prazos e qualidade", comenta o orientador de TCCs do curso de Medicina da Universidade Positivo Marcos Fabiano Sigwalt. Harmonia não significa terem o mesmo ponto de vista. Contudo, o professor de Metodologia do mestrado de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Ericson Falabretti considera fundamental que a posição ideológica do orientador não interfira no trabalho. Como isenção absoluta é impossível, ele recomenda que a escolha seja por alguém que não pense completamente diferente. Com o orientador definido, é preciso que o aluno compreenda que o papel do professor é guiá-lo, não ser coautor do trabalho. Muitas vezes o estudante se irrita porque pensa que terá mais ajuda, mas, na verdade, o TCC serve para que ele se identifique e se ambiente com as pesquisas científicas.
Uma orientação bem feita requer, segundo os docentes, um encontro semanal, no qual o professor lê o que foi produzido e passa novas tarefas. Os alunos que cumprem esse calendário tendem a ter um bom resultado final porque tiveram tempo para arrumar o que foi preciso. Os que não cumprem dão o primeiro passo para o desentendimento. "É o que mais nos irrita. Aluno em orientação precisa ter planejamento de leitura e comprometimento. Não pode faltar a orientação, pois ela é fundamentalmente contato, troca de informação", diz o professor Ericson Falabretti. É esse contato que permite ao orientador identificar casos de plágio. Para um aluno chegar à banca com um trabalho copiado é porque o professor não checou de perto a produção do acadêmico. "Hoje até as falsificações são entregues aos poucos ao professor. Se ele não tiver um olhar mais atento, vai cair na armadilha", comenta Fabíola Schirr Cardoso. Nesse caso, existem dois desfechos: o pedido para que o trabalho seja refeito ou, menos comum, a abertura de processo administrativo e reprovação.
Quando o estudante não cumpre os prazos ou o orientador mostra-se ausente, uma nova parceria pode ser a melhor opção. Tanto de um lado quanto do outro, a situação é delicada e requer cuidado na hora da conversa. Em geral, as universidades permitem essa troca. No entanto, em ambos os casos, ela dependerá da disponibilidade de outro professor e pode comprometer o resultado final do TCC se a mudança for feita em cima da hora. O novo professor terá de revisar o que havia sido feito e pode pedir alterações. Foi o que ocorreu com uma estudante de Ciências Contábeis que não quis ser identificada. Depois de seguir as orientações de um professor durante um semestre, o docente foi substituído e o novo orientador passou a criticar tudo que já estava pronto. Com pouco tempo, ela se viu desesperada ao ter de refazer praticamente tudo. A jovem não foi aprovada na primeira banca e teve uma semana para se preparar para a nova apresentação. "Foi a experiência mais estressante que tive. Cheguei ao ponto de achar que não aguentaria a pressão", conta.
Conte a sua experiência. Que outros obstáculos precisam ser vencidos pelos universitários durante a execução do trabalho de conclusão de curso?