| Foto: Gilberto Yamamoto

O que pensam os estudantes

Entre os universitários que passaram pelo trote tradicional, as opiniões são diferentes. O estudante de Engenharia de Produção da PUCPR Luciano Cury ficou frustrado. "Ficamos no bar tomando cerveja, cheios de sujeira, mas não teve muita interação entre calouros e veteranos, como dizem que há", lembra.

Para a estudante de Tecnologia em Processos Ambientais da UTFPR Débora Martins, o trote tradicional faz falta. "O trote foi uma oportunidade para interagir com os veteranos e colegas no bar e na rua, ambientes bem diferentes da sala de aula", opina. Ela afirma que não viu ninguém sendo obrigado a fazer o que não queria e que, depois das medidas para evitar os trotes, calouros e veteranos são menos entrosados.

Já o estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo Gabriel Soto Belo preferiu ficar de fora do ritual. "O trote não tem relação alguma com a faculdade. É só uma desculpa para beber e sentir uma breve sensação de superioridade", critica. Segundo ele, se tivesse opção quando era calouro, teria participado de um trote solidário.

CARREGANDO :)

A partir do ano que vem, instituições de ensino superior que tiverem políticas adequadas em relação ao trote dos calouros terão a oportunidade de obter melhores resultados na avaliação do Ministério da Educação (MEC). A sugestão do Ministério Público Federal (MPF) para tentar diminuir os casos de violência e humilhação na recepção dos alunos foi aceita pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), que incluirá medidas de prevenção ao trote entre os quesitos da avaliação.

Publicidade

Diante do grande número de casos de abuso durante o trote em todo o país, a proposta do MPF de São Paulo sugere que universidades que tiverem ações para inibir esse tipo de prática ganhem pontos nas avaliações. Não basta que a recepção ocorra fora dos câmpus. "Mesmo que seja na rua, não tem como dissociar o trote da instituição. O aluno só é pego na rua por ser da faculdade e quem organiza o ritual são os estudantes", diz o autor da proposta, o procurador Thiago Nobre, que trabalha com casos de trotes abusivos na região de São Paulo e defende que o papel das instituições é fundamental para acabar com a prática.

Solidariedade

Antes mesmo dessa mudança nos critérios da Conaes, várias instituições haviam adotado medidas para prevenir trotes violentos. "Não podemos proibir o que acontece fora da universidade, mas o trote tradicional muitas vezes acaba em violência por causa do exagero de alguns. Tentamos evitá­lo", explica o reitor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Carlos Eduardo Cantarelli.

Como não é proibido, o trote com corte de cabelo, bebidas e sujeira ainda ocorre em alguns cursos da instituição, mas os estudantes não são liberados das aulas e são avisados sobre as consequências. Estão previstas sanções disciplinares para quem constrange ou expõe os calouros ao ridículo, ofende a integridade física, moral ou psicológica ou obriga os alunos a doarem bens ou dinheiro. As punições vão da suspensão à expulsão. "Além disso, autores de trotes violentos estão sujeitos às punições previstas no Código Penal", lembra a coordenadora do curso de Tecnologia em Processos Ambientais da UTFPR, Valma Martins Barbosa.

Entretanto, não é por isso que os calouros deixam de ser recepcionados. "Iniciativas como trote solidário, com doação de sangue e medula ou arrecadação de roupas recebem total apoio da universidade", diz Valma. Nesse tipo de trote, calouros e veteranos participam da mesma forma, para evitar a sensação de hierarquia. "A ideia é acolher e não segregar", diz Valma.

Publicidade

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) também incentiva o trote solidário e, há dois anos, organiza uma recepção oficial para os calouros. "A abertura do período letivo é feita com atrações musicais e orientações sobre os câmpus e os cursos, além de um manual que incentiva os alunos a não participarem de trotes violentos", diz o diretor de Cultura e Relações Internas da PUCPR, João Oleynik.

O que você acha das recepções aos calouros? Que medidas poderiam ser adotadas pelas universidades para acabar com o trote violento?