• Carregando...
O soldado Luiz Ricardo Gomide  sai de campo carregado por companheiros de corporação: segundo dados preliminares, a confusão dentro do estádio deixou 17 feridos | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
O soldado Luiz Ricardo Gomide sai de campo carregado por companheiros de corporação: segundo dados preliminares, a confusão dentro do estádio deixou 17 feridos| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo
  • Durante o confronto, torcedor precisou proteger criança assustada

Nem deu tempo de lamentar o rebaixamento. Pancadaria, medo, vandalismo e violência se espalharam instantaneamente ao apito final que decretou a queda do Co­­ritiba para a Segunda Divisão. O centenário terminou em sangue. Um desfecho jamais imaginado. Uma temporada de equívocos arrasou um almejado ano de glória. Em 2009 não vieram os títulos, não se viu um bom time, nem parte dos shows prometidos foi assistida. E a Série A escapou na última rodada.

Com a confirmação da segunda degola em quatro anos, torcedores alviverdes invadiram o gramado após o empate por 1 a 1, redentor para o Fluminense e desastroso para o Coxa. Era o início do terror. Em campo, fora dele e em vários bairros da cidade.

Cenas chocantes de briga generalizada no Alto da Glória foram seguidas pela barbárie nos arredores do estádio. Vidros de pontos de ônibus quebrados, bombas caseiras arremessadas de um lado; balas de borracha atiradas pela polícia de outro. O resultado foi vários feridos, entre torcedores e policiais. Dezes­­sete pessoas foram encaminhadas aos hospitais da cidade, dois baleados em estado grave.

O baque pela queda foi ignorado enquanto a grande maioria da torcida assistia, atônita, às agressões no Alto da Glória. Primeiro ao trio de arbitragem, depois contra policiais que tentavam proteger jogadores e companheiros. Os atletas do Coxa fo­ram mais rápidos e correram para o vestiário antes. Já os jogadores do Fluminense ficaram ilhados no campo, enquanto ensaiavam uma co­memoração com os fãs cariocas. Ti­veram de ser escoltados pela polícia, em meio a socos, chutes e em­­­purrões.

Caixas de som, fileiras inteiras de bancos, barras de ferro e pedaços de cadeiras das arquibancadas fo­­ram usados como armas. Pelo pú­­blico e até pela polícia. Acuados em um dos setores do primeiro anel, alguns PMs se defenderam arremessando cadeiras previamente arrancadas pelos vândalos.

"Vender ingresso a R$ 5? O estádio ia encher do mesmo jeito. Aí veio todo o tipo de gente. Uma vergonha esse comportamento da torcida. Totalmente condenável. Ago­­ra vamos para a Segunda Divisão e corremos o risco de ter o estádio interditado", lamentou o fiscal de obras Cássio Daniel Valenga, 28 anos. A promoção de ingresso foi uma das medidas tomadas durante a semana pela diretoria para garantir mais apoio do público. Uma ajuda que jamais faltou.

Mas o desastre era esperado. Integrantes da torcida indicavam que a compreensão vista na queda de 2005, não seria repetida. "Não vai ter nada de ‘Coxa eu te amo’ (hi­­no entoado quando o time foi rebaixado, também em casa). Nin­­guém aceitará dois rebaixamentos. Temo pelo pior pelo que estamos ouvindo por aí", previu empresário André Lavinhinhi, 28, organizador do movimento Green Hell, uma das únicas marcas positivas no ano.

A diretoria também sabia do risco, tanto que o presidente Jair Ciri­­no foi embora antes do início da partida. Assim como outros diretores. A polícia, po­­rém, não se preparou para o ataque e penou para con­­trolar o tumulto.

"Naquele ano (2005) foi uma série de circunstâncias. Agora nos enganaram. Fizemos tudo, apoiamos, enchemos o estádio sempre e fomos iludidos pela diretoria", lamentou o estudante Marco An­­tônio Olinto, 21. "Mas ano que vem estaremos aqui", prometeu como outros tantos coxas-brancas, em lágrimas.

Hoje, o Superior Tribunal de Jus­­tiça Desportiva (STJD) se reúne para, provavelmente, anunciar a interdição do Couto Pereira – o Ministério Público também estuda uma reação enérgica. Será com casa fechada, rebaixado e fechando o saldo da maior batalha campal do futebol paranaense que o Coritiba abrirá o seu segundo centenário.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]