Nem deu tempo de lamentar o rebaixamento. Pancadaria, medo, vandalismo e violência se espalharam instantaneamente ao apito final que decretou a queda do Coritiba para a Segunda Divisão. O centenário terminou em sangue. Um desfecho jamais imaginado. Uma temporada de equívocos arrasou um almejado ano de glória. Em 2009 não vieram os títulos, não se viu um bom time, nem parte dos shows prometidos foi assistida. E a Série A escapou na última rodada.
Com a confirmação da segunda degola em quatro anos, torcedores alviverdes invadiram o gramado após o empate por 1 a 1, redentor para o Fluminense e desastroso para o Coxa. Era o início do terror. Em campo, fora dele e em vários bairros da cidade.
Cenas chocantes de briga generalizada no Alto da Glória foram seguidas pela barbárie nos arredores do estádio. Vidros de pontos de ônibus quebrados, bombas caseiras arremessadas de um lado; balas de borracha atiradas pela polícia de outro. O resultado foi vários feridos, entre torcedores e policiais. Dezessete pessoas foram encaminhadas aos hospitais da cidade, dois baleados em estado grave.
O baque pela queda foi ignorado enquanto a grande maioria da torcida assistia, atônita, às agressões no Alto da Glória. Primeiro ao trio de arbitragem, depois contra policiais que tentavam proteger jogadores e companheiros. Os atletas do Coxa foram mais rápidos e correram para o vestiário antes. Já os jogadores do Fluminense ficaram ilhados no campo, enquanto ensaiavam uma comemoração com os fãs cariocas. Tiveram de ser escoltados pela polícia, em meio a socos, chutes e empurrões.
Caixas de som, fileiras inteiras de bancos, barras de ferro e pedaços de cadeiras das arquibancadas foram usados como armas. Pelo público e até pela polícia. Acuados em um dos setores do primeiro anel, alguns PMs se defenderam arremessando cadeiras previamente arrancadas pelos vândalos.
"Vender ingresso a R$ 5? O estádio ia encher do mesmo jeito. Aí veio todo o tipo de gente. Uma vergonha esse comportamento da torcida. Totalmente condenável. Agora vamos para a Segunda Divisão e corremos o risco de ter o estádio interditado", lamentou o fiscal de obras Cássio Daniel Valenga, 28 anos. A promoção de ingresso foi uma das medidas tomadas durante a semana pela diretoria para garantir mais apoio do público. Uma ajuda que jamais faltou.
Mas o desastre era esperado. Integrantes da torcida indicavam que a compreensão vista na queda de 2005, não seria repetida. "Não vai ter nada de Coxa eu te amo (hino entoado quando o time foi rebaixado, também em casa). Ninguém aceitará dois rebaixamentos. Temo pelo pior pelo que estamos ouvindo por aí", previu empresário André Lavinhinhi, 28, organizador do movimento Green Hell, uma das únicas marcas positivas no ano.
A diretoria também sabia do risco, tanto que o presidente Jair Cirino foi embora antes do início da partida. Assim como outros diretores. A polícia, porém, não se preparou para o ataque e penou para controlar o tumulto.
"Naquele ano (2005) foi uma série de circunstâncias. Agora nos enganaram. Fizemos tudo, apoiamos, enchemos o estádio sempre e fomos iludidos pela diretoria", lamentou o estudante Marco Antônio Olinto, 21. "Mas ano que vem estaremos aqui", prometeu como outros tantos coxas-brancas, em lágrimas.
Hoje, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) se reúne para, provavelmente, anunciar a interdição do Couto Pereira o Ministério Público também estuda uma reação enérgica. Será com casa fechada, rebaixado e fechando o saldo da maior batalha campal do futebol paranaense que o Coritiba abrirá o seu segundo centenário.
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