Há muito tempo fez-se uma verdade no futebol mundial: a melhor defesa é o ataque. Na Europa os times eram altamente defensivos. Abro uma exceção para a Seleção da Hungria, com o fenomenal Puskas na condução talentosa de um time que por vezes foi arrasador. A retranca nasceu no velho continente e a prioridade física, superando o talento, vem de lá. O Brasil sempre teve vocação artística. Jogadores que fizeram da alegria de jogar o prazer dos torcedores.

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Dois exemplos clássicos foram Pelé e Garrincha, com jogadas magistrais e sempre surpreendentes. Cito os mais recentes para não excluir da leitura os adolescentes de hoje, que aprenderam um futebol já preocupado com pancadas, agressões e jogadas armadas para anular o talento dos adversários, não importando o custo. Optamos por imitar os carrancudos destruidores da arte.

O Santos outra vez está dando um exemplo maravilhoso de como jogar futebol, de emocionar e fazer sorrir o grande público. O exemplo clássico de time atacante foi o Santos de um técnico modesto, Luiz Alonso, o Lula, cuja grande preocupação era acomodar o corpo pesado no banco de reservas para cumprir sua missão profissional. O trabalho dele sempre foi facilitado pelo ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Que saudade dos gols desse ataque de infantes, sempre à frente do time para arrasar os adversários. Obras fantásticas de raro talento. As tabelas estonteantes de Pelé e Coutinho, os verdadeiros tiros de canhão de Pepe, a velocidade de Dorval e a afinada articulação com o resto do time de Mengálvio. A defesa poderia tomar dois, três gols, mas o ataque avassalador se encarregava de liquidar o jogo.

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Hoje o Santos está outra vez inovando. É um encanto acompanhar o futebol moleque, extrovertido de Neymar e seus companheiros. Jogo livre, de toques sutis, envolvendo os adversários e mostrando que a arte será sempre superior à violência dos pernas de pau. Outro dia vi uma cena de família alegre e feliz. Um gol de cabeça de Robinho e a comemoração entre risos generosos e tapinhas carinhosos entre jogadores e o competente treinador Dorival Júnior.

O Santos está recriando a arte, os traços finos de Da Vinci, que não existem mais. Tudo para o delírio da plateia. Não interessa ser santista ou não. O novo Santos está mostrando que o que conta é jogar brincando com a bola, como fazíamos com as bolas de meia no tempo de colégio.

Espero de Dunga uma homenagem ao futebol clássico ressuscitado, levando Neymar para a Copa da África do Sul, com a mesma e corajosa decisão do gordo Vicente Feola que em l958 mostrou ao mundo a graça, a categoria e a finesse do futebol de Pelé, o maior dos meus tempos de apreciador do futebol com requinte, talento e classe. Com a criatividade dos mágicos.