Enquanto a chapa esquentava depois do clássico de domingo passado, tirei uma semaninha para vir à Argentina, onde a Gazeta do Povo cobrirá a Copa América. Na quarta-feira acompanhei Paraná e Botafogo pela Copa do Brasil em tempo integral (on-line). Não é um fato novo, mas para mim foi interessante. A cada torpedo disparado pelo jornal, clicava aqui o meu botão imaginário, voltando ao tempo em que o telégrafo registrava mensagens vindas das primeiras Copas. O telégrafo era o Twitter dos anos 30. Percebi e valorizei então, na prática, o avanço virtual da notícia.
Jogo virtual
A Liga dos Campeões, com argentinos em campo, é preferência absoluta de audiência, e se tem Messi, muito mais. Bares e restaurantes estavam sintonizados no jogo do Barcelona contra o Shakhtar. Fiquei num desses locais para assistir, almoçar e aproveitar o clima. Tudo ótimo, mas sem nenhuma emoção.
Na tela de alta resolução, o futebol praticado pelo Barcelona parece eletrônico. Pode ser um contrasenso, mas futebol previsível se torna chato. Gramado perfeito, passes precisos, toques rápidos, dribles na dosagem certa e gols, muitos gols. Encanta, é evidente, mas não surpreende. Senti-me um adolescente desocupado diante de um vídeogame.
Pablo Milanés
Quinta-feira apaguei da memória o futebol para assistir Pablo Milanés no teatro Gran Rex. O regalo do cantor cubano um misto de Chico e Milton contrasta com a coisa robotizada que havia assistido pela televisão. Um show com alma, vida, e sonoridade relaxante. Teve o tempo de uma partida de futebol, com direito a três prorrogações. Eternizou. Emoção única. Um show nas proporções de Garrincha no histórico Brasil e União Soviética na Copa da Suécia. Aquele jogão que gostaria de ter assistido.
Lionel Messi
Messi é determinado e talentoso, mas não seduz. Falta-lhe o carisma do gênio. Talvez pelo fato de ter superado uma anomalia óssea de crescimento tinha 1,40 de altura e cresceu 30 centímetros à custa de injeções diárias durante anos -, parece biônico e lembra um pouco Schumacher, o maior recordista de todos os tempos na F1. (Recordo, em tempo, que 217 pilotos que passaram pelas pistas, elegeram Ayrton Senna o melhor de todos os tempos). Messi é o melhor do mundo pela segunda vez e pode ir além. É uma questão estatística. Mas, sejamos justos, é craque. E é isso que vale.
Toque de classe ou irreverência?
Messi ou Neymar? Não importa. Como disse o jornalista uruguaio Eduardo Galeano autor brilhante de As veias abertas da América Latina em seu livro El fútbol a sol y sombra: Una linda jugadita, por amor de Dios. E completa: "Y cuando el buen fútbol ocurre, agradezco el milagro sin que me importe un rábano cuál es el club o el país que me lo ofrece."
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