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Assistindo na quinta-feira pela televisão o jogo em Goiás, e en­­cantado pelo momento especial que o Coritiba está vivendo, me pergunto como defini-lo corretamente: ambicioso, insaciável ou obsessivo?

Qualquer desses adjetivos tem a ver, mas todos podem levar a interpretações dúbias. Acho mais apropriado enquadrar o trabalho que se desenvolve no Alto da Glória como de perseverança.

Desde a plataforma administrativa do premier Vilson Ribeiro de Andrade, envolvendo o presidente Jair Cirino e todos os gestores do clube, indo até os jogadores, o que se vê é prazer, harmonia e entusiasmo. Tudo calcado em perseverança.

Voltando ao jogo, que não foi nenhum primor – e na superação clareiam virtudes não vistas em momentos fáceis –, realçou o fato de o elenco não ter e nem precisar de maestro para entoar a melodia. Todos são músicos sem regente, sem protagonista, e a coisa está indo muito bem. Ou seria melhor o Marcelinho Paraíba neste coral? Claro que não.

O Coritiba é hoje fogoso, mas ritmado; técnico, porém guerreiro. Joga solto, confiante e alegre. O titular não sente ameaça, e o reserva não parece angustiado. Tcheco entra para cadenciar, enquanto Geraldo incendeia. Anderson Aquino surge como se habitual fosse e Jéci parece jamais ter saído. E acrescentar o que para Rafinha, Davi e Marcos "Romá­­rio" Auré­­lio? Chamá-los de Pi­­râ­­­­mides de Gizé? Talvez.

Dá para dizer, sim, que o Cori­­tiba é (ou, está?) insaciável. Mas não por busca estatística. Por vontade infinita de produzir sempre, bastante e bem. É diferente do insaciável pelo poder ou pelo dinheiro, que tem o ego e o material como um fim. Não, o insaciável no esporte, na arte ou na cultura sabe que ele é apenas um meio para crescimento e felicidade de muitos.

Assim é Bernardinho e assim foram Pelé, Castro Alves ("sinto em mim o borbulhar do gênio") e o Dream Team do bas­­quete norte-americano. Chico Buar­­que é fonte inesgotável de criação. A seleção húngara de Puskas e Kocsis, o Santos dos anos 60, o Barcelona de hoje, são ou foram insaciáveis. E não há pecado nisso, muito pelo contrário, é só alegria.

O Coritiba joga e está vencendo com volúpia e objetivos mais amplos. Sem narcisismo. É uma nação de quem gosta de futebol, sejam coxas ou não, que sente prazer em vê-lo jo­­gar. Ney Franco criou a or­­ques­­tra que Marcelo de Oli­­veira soube afinar, deixando seus músicos mais soltos, alegres e ousados.

O esplendor desta fase fértil, fecunda e quase inesgotável que o Coritiba vive hoje é bom para todos, mesmo para os adversários que buscam um modelo de entusiasmo e motivação.

Aliás, muitos "justificam" frequentemente que a motivação não dura. Bem, nem o banho – e é por isso que ele é recomendado diariamente. Perseverança é a chave.

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