O fascínio pela Copa do Mundo tem a mesma dimensão da crueldade que o futebol muitas vezes impõe aos apaixonados por ele. É o que vem acontecendo por essas bandas do lado de baixo da linha do Equador, da Colômbia, do Chile e de todos os "invasores" latino-americanos. Os nossos vizinhos tomaram conta do quintal. O que é bom. São tantos que há falta de espaço. O que é um pecado.

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Espaço, eis a questão! Quando vou aos jogos, costumo observar o comportamento dos torcedores, desde a estação do metrô Cantagalo até o estádio. Na quarta-feira, dia do estouro da boiada no Centro de Imprensa do Maracanã, os vagões vieram abarrotados de chilenos padrão família. Muitas mulheres e crianças. Diferente dos argentinos, que têm a mania de pular enquanto cantam. Na rampa principal de acesso, a raiz de todos os problemas: a falta de ingresso, ou a venda dele pelo cambista. A angústia por um bilhete é desesperadora. É o coiote explorando o imigrante ilegal.

Estava com o André Pugliesi no reservado para a mídia quando a turbamulta invadiu. Vimos tudo e eu cheguei até a conversar com alguns deles depois que a coisa acalmou. Não era grupo de black blocs, vândalos, barra-bravas, nada disso. Apenas um bando de loucos por futebol sem espaço na plateia. Aí a caixa de marimbondos despencou no pior lugar do estádio.

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Não há mais lugar para todos e o trânsito das pessoas pelo mundo é imenso. É a busca por uma vida melhor. Cruzam fronteiras ilegalmente, são presos, deportados. Mortos, às vezes. É o fluxo da vida por espaço. O futebol também oxigena a paixão pela vida. É também uma busca da utopia. Aqueles chilenos que invadiram o Centro de Imprensa, não são bandidos, mas a forma de procurar espaços deve ser outra, não aquela. Qual? Não sei. Nem mesmo Luiz Felipe Scolari, que é muito bem pago para planejar o encontro de espaço para 11 jogadores em campo, descobriu a forma até agora. Espero que o Brasil não fique entalado quando entrar no funil das fases mata-mata.

Veias abertas

Este Mundial é, até agora, a antítese de 1966, na Inglaterra. Naquele ano, as seleções latinas foram sufocadas no grito e no apito. Argentinos e uruguaios, principalmente. Agora, com a classificação da Costa Rica podemos ter sete seleções do nosso continente, entre as 16 da outra fase. Depois, vai depender do ataque de caças franceses Rafale...

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