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Marcos Amaral: centenas de ligações e 18 horas de trabalho diário | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Marcos Amaral: centenas de ligações e 18 horas de trabalho diário| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

A espera acaba de completar 50 minutos quando Marcos Amaral entra pela sala de reuniões resfriada pelo ar-condicionado. É a quarta tentativa de falar com o empresário. A primeira foi cancelada por causa de uma viagem às pressas a São Paulo para negociar Victor Ferraz. A segunda, porque Amaral perdeu o iPhone e ficou incomunicável. Na terceira, uma viagem para vender Roniery. O atraso, por fim, era consequência de um almoço com dirigentes do Coritiba.

A agenda sujeita a mudanças repentinas resulta de uma rotina exaustiva. Amaral calcula atender 600 ligações por dia. Exagerado ou não, o número é compatível com uma jornada de trabalho estimada em 18 horas. A esposa, Tatiane, só consegue passar mais tempo com o marido porque divide escritório com ele. Acompanha de perto o ciclo anual de um empresário. Janeiro, contratações para o estadual. Fevereiro a abril, busca de jogadores para o Brasileiro. Maio a julho, ajustes de elenco e transferências na janela internacional. A partir de agosto, garimpagem para a temporada seguinte.

"Não paro nunca", diz Amaral, há cinco anos empresário de futebol. Tempo em que abandonou a construção civil, onde atuava com a família, para se tornar um dos mais influentes agentes do estado, mais notadamente no Paraná, seu primeiro e até hoje principal parceiro.

* * * * *

Qual foi seu primeiro grande negócio?

No primeiro ano da parceria com o Paraná, em 2010, eu trouxe o Gilson [lateral-esquerdo] do Cascavel e, em três meses, acertamos uma venda para o Grêmio, com um resultado muito interessante. Logo depois, fizemos uma venda para o Cruzeiro. Foi uma sensação única. Tinha acabado de entrar no futebol e já fizemos esse negócio.

O que te fez entrar no futebol?

Tinha jogado no Atlético até os 18 anos, todas as categorias de base. Fiquei com o sonho de voltar ao futebol.

Jogava em que posição?

Atacante.

O Marcos Amaral empresário faria uma boa venda do Marcos Amaral jogador?

Se eu tivesse um Marcos Amaral na minha vida, teria ido mais longe.

Porque o atacante era bom ou porque o empresário é bom?

O Marcos Amaral era um jogador de qualidade e é um bom empresário também. Um grande jogador tem de ter um grande representante para dar sequência ao bom momento dele. É o que procuro fazer. Aposto em atletas de potencial. É um investimento de alto risco. Um atleta pode render milhões ou sofrer uma lesão e aquele investimento micar. É preciso muito critério para avaliar.

Como você recruta jogadores?

Algo que eu não abro mão é de todas as contratações passarem na minha mesa. Tenho oito olheiros pelo Brasil que estão monitorando jogador. Quando é para efetivar, eu vou e acompanho dois, três jogos.

Qual o índice de acerto?

Dificilmente eu erro em contratação. No futebol, se de dez você acertar duas, está no lucro. De dez eu acerto 9,2. Estou um pouquinho acima da média.

A que atribui essa média?

Trabalho só em cima de revelações e do melhor. Se for para errar, que seja em cima do melhor.

Uma aposta certa banca quantas outras?

Difícil precisar. Às vezes uma certa paga dez investimentos. Vender atacante ou um meia é diferente de zagueiro e lateral. O Hernane Brocador, por exemplo, eu tinha opção de comprar por um valor baixo. Veio em 2011 para o Paraná, fez um gol e eu não realizei o negócio. Hoje, esse mesmo Hernane vale R$ 20 milhões e eu não quis comprar por 10% disso.

É difícil empresário admitir um erro.

O Hernane dizia: "Amaral, investe em mim, me compra, me deixa no Paraná". O Aramis [Tissot, ex-dirigente do clube] dizia: "Amaral, ele fez um gol só. Não vai investir". Muita gente brinca que eu estava com um bilhete premiado no bolso e não sabia. Futebol é assim.

Hoje, é no Paraná que Marcos Amaral deposita a maior parte dos seus bilhetes, à espera de que sejam premiados. A parceria iniciada em 2010 teve um período de interrupção, mas voltou com toda a força ano passado. O time que quase voltou à Série A tinha amplo suporte da Amaral Sports. Fosse com a captação de jogadores, fosse com patrocínio de camisa, fosse com socorro financeiro ao clube.

Para 2014, a relação tornou-se ainda mais estreita. A chegada do meia Paulinho, na semana passada, foi um marco. Somente o 17º reforço paranista na temporada não desembarcou na Vila por intermédio do empresário.

Você tem muito poder dentro do Paraná?

Não. As pessoas ficam na arquibancada dizendo: "O Amaral tem porta aberta no clube", "Só o Amaral traz jogador". Vem fazer o trabalho junto. Vem trazer investidores para o clube. Vem trazer dinheiro. Quanto mais parceiro tiver, mais forte o Paraná. Não tenho vaidade de não ter outros parceiros. É preciso muito jogo de cintura para não misturar quando você representa o atleta perante o clube do qual você é parceiro. Você está de um lado da mesa e às vezes precisa mudar de lado. É preciso muita ética.

Já pediu para técnico escalar jogador?

Nunca. Jamais. Imagina eu desrespeitando o Dado [Cavalcanti, técnico que teria sofrido esse tipo de pressão em 2013]. Se fosse assim, Brinner, Rubinho e Fernando Gabriel teriam jogando sempre. Então eu estava escalando mal o time, porque os meus não estavam jogando.

Tem treinador que se intimida ao ver muito jogador do mesmo empresário no elenco?

De não vou bater de frente com o homem? Não acredito. Sempre houve muito respeito e ética. A partir do momento que eu fugir disso, prefiro sair do futebol.

Você pagou salário de jogador do Paraná?

Não.

Em momento nenhum? Ano passado se comentou muito isso.

Foi só conversa de corredor. O presidente mesmo já falou que quando precisou, o único que pode contar foi Amaral. Sentou com outros empresários, e eles não ajudaram.

Apoiou a greve dos jogadores?

Vai da consciência de cada um. Os que me perguntaram, eu disse que era contra, procurei ajudar. Cheguei a dar R$ 5 mil para jogador que nem era meu, me pagou direitinho depois, para ajudar a contornar essa situação.

Ter muito jogador no mesmo time é melhor para o seu negócio?

O clube estar bem é melhor. Prefiro ter um jogando e o clube estar bem do que dez em campo e o clube mal. Tem muita gente não sabe como funciona a parceria. A Amaral Sports traz o jogador a custo zero e o clube é detentor de um porcentual. Qual clube não quer um parceiro que traz Roniery a custo zero? Brinner a custo zero? Carlinhos a custo zero? Rubinho? Fernando Gabriel? Kenno? Paulo Roberto? Victor Ferraz? Se eu fosse presidente de clube, abraçaria a Amaral Sports. E o jogador tem de vir a custo baixo, ser parceiro do clube. Primeiro mostra qualidade, depois faz um grande contrato. O Carlinhos tem o salário mais baixo do time do Coritiba.

Carlinhos é um caso à parte. O lateral-esquerdo chegou a Curitiba para defender o Paraná. Como já havia jogado a Série B pelo Icasa, ficaria apenas treinando no Tricolor nos últimos meses de 2013 e seria efetivamente integrado ao grupo este ano. Amaral sabia da necessidade do Coxa por um jogador para a posição. Consultou a diretoria paranista e ofereceu Carlinhos ao presidente Vilson Ribeiro de Andrade. É jogador alviverde, mas com 20% dos direitos econômicos pertencentes ao Paraná. Pode dar lucro ao Tricolor sem jamais vestir vermelho, azul e branco.

O meia Bismarck é um caso similar. Mais destacado dos 15 jogadores do Paraná cedidos ao Rio Branco, já despertou a atenção do futebol japonês. Se for vendido, 30% do valor vai para os cofres paranistas. "Montei o time do Rio Branco em duas horas, pelo telefone. Coisa que diretor de clube fica um mês trabalhando e faz mal feito", gaba-se o empresário, que espera conseguir no Paraná algo que já conquistou no Rio Branco.

Qual grande negócio ainda sonha fazer?

Meu grande negócio é o Paraná na Primeira Divisão. É muito maior do que negociar qualquer jogador com Barcelona ou Real Madrid.

Aí você está jogando para a torcida.

É um sonho de coração, sincero. Entrei no futebol já realizado financeiramente. Não preciso do futebol para viver. Sou empresário, invisto para obter retorno, mas não faço do futebol as picaretagens que muitos fazem.

Te surpreende o trabalho no Rio Branco?

A cidade está toda em festa, há muito tempo Rio Branco não fazia um campeonato assim. Tive a felicidade de estar lá [na vitória por 3 a 2 sobre o Prudentópolis] e aconteceu algo diferente. Desci do camarote para cumprimentar os jogadores e a torcida começou a gritar meu nome. Foi algo único, me emocionou.

Sonha ver isso na Vila Capanema?

Sonho, sim. Fico muito feliz quando vou descendo nas sociais e a torcida me cumprimenta. Sempre há um ar de desconfiança em relação ao que já aconteceu com a LA Sports, é um fator deles. Minha postura de trabalho é clara. Se o jogador está dentro do clube e quer sair, fazer alguma sacanagem, não é representado pela Amaral Sports. Jamais jogador meu vai sair a custo zero ou pela Justiça.

O que precisa acontecer para a torcida do Paraná gritar seu nome?

O Paraná na Série A iria coroar o trabalho. Está perto de acontecer.

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