Uma das muitas máximas do jornalismo diz que nada é mais velho do que uma notícia de anteontem. Vale a exceção somente quando a notícia tem valor histórico e torna um marco o dia em que ela aconteceu. Assim, o 13 de novembro de 2013 merece um lugar especial nos almanaques do futebol brasileiro. Pelo título merecido do Cruzeiro. Pelo centésimo gol de Paulo Baier, com o bônus sentimental de ser contra o Criciúma. Mas, principalmente, pelos braços cruzados e a histórica troca de chutões de São Paulo x Flamengo.
É um dia histórico porque põe em xeque uma verdade absoluta, de que jogador de futebol tem nível zero de engajamento e mobilização. A tardia, porém firme, manifestação dos jogadores da seleção, durante a Copa das Confederações, sobre os protestos pelo país já havia sinalizado uma mudança de ventos, algo que o Bom Senso FC só vem a confirmar.
O pedido dos atletas não é por sombra e água fresca, como quer fazer crer a cartolagem, com palavras que parecem sair da boca dos senhores de engenho do século 19, quando se discutia a abolição da escravidão. É, sim, por ter uma condição digna de oferecer um bom espetáculo para quem torce pelo futebol, um bom produto para quem vive do futebol.
É para dar a condição ao torcedor de cobrar o bom uso do seu dinheiro gasto com ingresso ou associação, porque o time que está em campo foi bem treinado, está preparado adequadamente e com todas as peças à disposição. É para permitir a um canal de televisão fazer com segurança a chamada de um jogo, apostando nos craques de cada time, sem correr o risco de o reclame micar porque o jogador precisou ser poupado ou se machucou.
Pena que a visão imediatista ainda emperre o movimento. A CBF não pode olhar apenas para o curral eleitoral composto pelas federações, que se agarram aos moribundos estaduais para manter algum poder. Quem paga a conta não deveria fazer o simples cálculo matemático de custo total dividido por número de jogos para concluir que vai pagar mais para receber menos. Na prática, receberá mais.
A NFL é a maior liga esportiva do mundo. Deixa o público norte-americano parado, domingo após domingo, diante da tevê para assistir a um torneio que dura apenas 20 finais semanas. E quando ficou claro que o faturamento ia aumentar em todas as pontas se houvesse um jogo para se transmitir na quinta-feira e outro no sábado, além das tradicionais jornadas de domingo e segunda-feira, desmembraram-se as rodadas.
É o tipo de visão que tem de ser incorporada ao futebol brasileiro. E que caminha para uma transformação a partir de onde menos se esperava, dos jogadores, como indicou o histórico 13 de novembro de 2013. Que mude o futebol. Ou que os protestos se acentuem. O futebol agradece.
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