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Eu era um repórter em co­­meço de carreira quando Kleberson voltou da Ásia campeão mundial com a seleção, em 2002. Fui escalado para cobrir a chegada do Xaro­­pinho a Curitiba. Comecei meu "Dia Kleberson" no aeroporto, se­­gui o caminhão de bombeiros pela cidade e marquei dentro do que meu condicionamento físico permitia a volta olímpica no gramado na Arena. Poucas vezes tinha visto uma pessoa tão feliz quanto vi Kleberson naquele dia. Parecia que somente naquele momento, com centenas de torcedores enforcando uma tarde de trabalho para recebê-lo, ele conseguia dimensionar a sua conquista.

No fim de semana, o noticiário trouxe uma faceta bem menos feliz de Kleberson. O jogador teve o seu imponente Hummer apreendido pela Polícia Federal, sob suspeita de envolvimento com uma quadrilha que contrabandeava carros de luxo. Não vou entrar no mérito legal do caso, que envolve outros jogadores e alguns artistas. O meia alega inocência, o que pode ser verdade. Não falta gente rondando jogadores de futebol com "negócios da China". E não falta jogador de futebol sem discernimento para diferenciar o bom do ruim, o certo do errado.

O que mais me impressiona é como as coisas deram errado para o jogador rubro-negro nos últimos anos. Isso depois de elas terem dado absurdamente certo durante um tempo. E mais impressionante ainda como isso é comum na vida de um jogador de futebol.

Kleberson surgiu como um meteoro. Voou das categorias de base do Atlético para o time principal. Dali para a seleção. Da reserva da Seleção para a titularidade nos três últimos jogos da Copa. Do título mundial para o Manchester United. Tudo isso em três anos, um salto que 99,9% das pessoas não conseguem ao longo da vida.

Depois ele desapareceu com a mesma intensidade. Sofreu lesões que minaram seu espaço no Man­­ches­­ter até ir parar no time B. Dali foi para o Besiktas, de onde saiu brigado e impedido de jogar por alguns meses. Teve um brilhareco no Flamengo de 2008 que bastou para garantir sua presença em mais uma Copa do Mundo, melancólica a ponto de nem passar pela cabeça de Dunga lançar mão da sua experiência enquanto o Brasil era eliminado pela Holanda. E acabou com um empréstimo ao Atlé­­tico, onde, exceto com Renato Gaú­­cho, Kleberson não conseguiu se firmar como titular. Simples­­mente porque não é mais nem sombra do camisa 10 que grudava a bola no pé, corria com ela pelo lado direito do ataque e fazia a enfiada perfeita para os atacantes.

Já entrevistei Kleberson dezenas de vezes. No aeroporto, na Arena, no CT, em cabine de avião, na festa de casamento dele, por telefone a um oceano de distância... Hoje, gostaria mesmo de bater um papo e ouvir dele como é subir tão rápido e depois ver tudo se perder lenta e gradualmente. Se a Justiça quer – e deve – saber como Kleberson comprou o seu carrão, eu só queria mesmo saber em que momento se perdeu aquela alegria do garoto.

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