As vitórias do Corinthians sobre o Chelsea e da seleção sobre a Espanha criaram uma falsa impressão de que o futebol brasileiro equiparou-se ao praticado na Europa. Uma ilusão desfeita pelo barulho das oito vezes em que a bola estufou a rede do Santos, no massacre imposto pelo Barcelona. A distância do futebol jogado no Brasil para o europeu não é tão grande como indica a derrota santista. Nem tão pequeno como sugerem os triunfos no Mundial de Clubes e na Copa das Confederações.

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Ao derrotar o Santos no fim de 2011, Guardiola estipulou um marco zero interessante: o Flamengo campeão mundial de 1981 e a seleção de 82. Disse que o seu Barcelona jogava como aquelas duas equipes.

Ao longo dessas três décadas, o futebol brasileiro de clubes avançou de bonde e o europeu de trem-bala. A importação de jogadores de todos os continentes permitiu à Europa incorporar ao seu jogo antes predominantemente físico e tático características de outras regiões: criatividade, habilidade, velocidade etc.

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O futebol inglês é o que melhor sintetize essa transformação. Trocou o estereótipo dos chutões por um jogo extremamente veloz, com uma sintonia perfeita entre disciplina tática e capacidade individual. É o mesmo caminho que a Alemanha vem seguindo. A Espanha reduziu a intensidade do seu jogo e passou a tocar mais a bola. A Itália faz a mesma transição, por obra de Arrigo Sacchi e Cesare Prandelli.

Ficar somente nos gigantes europeus é fácil? Ok. Após cair na primeira fase da Euro-2000, da qual foi coanfitriã, a Bélgica padronizou o sistema de jogo das seleções. Seja qual for a categoria, joga-se no 4-3-3. O resultado é que os Diabos Vermelhos devem vir ao Brasil ano que vem, após duas Copas de ausência, com uma geração brilhante, capaz de levar o país sem sustos às quartas de final e de sonhar com a terceira semifinal da sua história.

O Uruguai voltou a entender que futebol se ganha jogando, não apenas brigando, quando Óscar Tabárez implantou a mesma padronização a todas as seleções. A Celeste à semi na Copa-2010, na Copa das Confederações deste ano e venceu a Copa América. Na base, é a atual campeã sub-17 e sub-20.

Em todos os casos, a mudança é gradual. No Brasil, começar um trabalho agora só dará frutos realmente maduros na próxima década. Precisamos ter essa paciência. O primeiro passo já foi dado. Novos treinadores, como os locais Marquinhos Santos e Dado Cavalcanti, têm a cabeça alinhada ao futebol jogado lá fora. Estão anos-luz à frente das gerações anteriores, que salvo exceções como Cuca, Tite, Ney Franco, Caio Júnior e Mano Menezes, ainda pensa o futebol como um jogo em que você primeiro se preocupa em como não perder e depois acende uma vela para o craque do time resolver tudo sozinho.

O passo seguinte é essa consciência passar a existir na CBF e, depois, se disseminar pelos clubes, com a formação de jogadores realmente seguindo uma nova cultura, em que trabalho tático, preparação física e uso do talento individual são vistos como itens inseparáveis.

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