Bastou a Gazeta do Povo noticiar na quarta-feira que o Paraná segue dependendo de empresários para montar e manter o elenco que a tropa de choque iniciou sua operação-padrão. O modus operandi é conhecido, mas merece o resumo: joga pedra, questiona a lisura do autor da reportagem, ocupa-se de pormenores para desviar o foco daquilo que realmente interessa. Enfim,uma cortina de fumaça para abafar o debate.
Aqui, um parênteses mezzo jurídico, mezzo jornalístico. Uma conversa pertence, legalmente, a todo mundo que participa dela. E dirigente que está conversando com jornalista está dando entrevista. Se quer que algo do que ele disse não seja publicado, pede off ao entrevistador. Raros jornalistas não atendem o pedido.
Feita essa observação, as perguntas que realmente interessam. O dirigente paranista nega que tenha dito o que está gravado? Não. É mentira que 14 jogadores do elenco atual pertençam aos empresários citados na matéria? Não. É mentira que alguns desses jogadores têm parte do salário paga pelos citados empresários? Não. É mentira que 50% dos direitos dos jogadores formados nas categorias de base do Paraná pertencem à empesa Base, que construiu o Ninho da Gralha e mantém essa estrutura? Não. É mentira que o que leva o Paraná a se submeter a essa situação é a falta de dinheiro? Não. É mentira que esse cenário deixa o Paraná de mãos atadas quando, por exemplo, um jogador como o Júnior Urso é chamado a voltar para o time cujo departamento de futebol é mantido por um dos parceiros do Paraná? Não. É mentira que, a curto prazo, não há perspectiva de o Paraná reverter essa situação? Não.
Se houve erro, foi o de não mencionar que a entrevista foi gravada em 15 de setembro. Por outro lado, algo mudou desde então? Não.
Então o que se expôs ali são fatos, problemas que afligem o Paraná há anos, com razões que eu inclusive tratei aqui, na terça-feira. Problemas que o torcedor tem o direito de saber que ainda existem e que a diretoria, ao se propor administrar o clube, tem o dever de procurar resolver. Ao cogitar uma composição para retomar as categorias de base, informação trazida aqui na coluna há algumas semanas, Aramis Tissot está procurando uma solução.
Dar tapinha nas costas de dirigente, fingir que está tudo bem é mais fácil, mas não é fazer jornalismo. Fazer jornalismo é apontar erros, provocar discussão, mostrar exemplos que estão funcionando e possam servir de parâmetro.
Veja a Portuguesa. Totalmente entregue a empresários, sem dinheiro e com uma perda constante de associados, o clube caiu para a Segunda Divisão do Paulista e quase foi parar na Série C em 2006. Se reorganizou, parcelou as dívidas, voltou a ser dona do seu elenco e agora volta ao Brasileirão com uma campanha e um futebol de deixar a torcida orgulhosa. Essa transformação, tenham certeza, não nasceu de tapinhas nas costas ou cortinas de fumaça, mas sim a partir do ataque aos problemas.
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