Até que ponto os dirigentes e nós, jornalistas, te­­mos o direito de cobrar do torcedor uma visão mercantil do futebol? Na última semana, seja aqui ou no blog Bola no Corpo, escrevi textos que passam por este tema e me levaram a esse questionamento que divido e repasso aos leitores.

CARREGANDO :)

Reproduzi Vilson Ribeiro de Andrade criticando quem se associou ao Coritiba por causa de apenas um jogo; defendi a adesão em massa dos paranistas às novas campanhas do marketing do clube; argumentei, para atestar que Santiago García é um bom reforço para o Atlético, que ele pode render alguns milhões em uma venda futura. Agora, pergunto: o torcedor é obrigado a aceitar isso? Ou, o torcedor quer aceitar isso?

É uma realidade que vai totalmente contra o futebol a que muitos de nós fomos apresentados. Um futebol em que jogadores eram contratados para fazer a carreira em um clube e torcedores iam ao estádio somente preocupados em torcer. Antes, um jogador ir bem no clube era sinal de que ele poderia chegar à seleção – e isso era motivo de orgulho coletivo. Hoje, o orgulho por ver um garoto se destacar com a camisa de seu time é muito pelos milhões que será possível arrancar de algum clube europeu na janela de transferência.

Publicidade

Desculpem-me se pareço saudosista. Não sou. Nem tenho idade para tanto. Admitir o futebol como um negócio é inevitável. Como também parece inevitável que este negócio perca um pouco a sua popularidade à medida em que se tornar mais grandioso.

Ao preferir somente aquele fã disposto a colaborar com uma mensalidade ou a compra de produtos oficiais, os clubes abrem mão de ter uma massa torcedora para ter um grupo restrito de pe­­quenos acionistas. Gente disposta a dar uma quantia periódica e receber como lucro gols, vitórias e títulos. E, como pequenos acionistas, gente que considera um reforço bom também se ele tiver um bom potencial de revenda.

Apoio irrestritamente o pito do Vilson nos torcedores de ocasião. Estou convicto de que o Paraná só sairá do buraco com o suporte financeiro do seu torcedor. Vejo uma passagem perfeita de El Morro pelo Atlético somente se ele aliar boas atuações a uma boa revenda. Mas não consigo defender tudo isso sem me sentir cúmplice consciente do assassinato do bom e velho torcedor de futebol.

Por pouco

Falcão vem com seu Inter enfrentar o Coritiba com a corda no pescoço. Se perder, nem sua divindade no Beira-Rio será capaz de livrá-lo da degola. É o mesmo Falcão que o Atlético empenhou-se em trazer. A combinação en­­tre os problemas que ainda tiram o sono de Adilson e a inaptidão de Falcão no banco só não resultaria em pontuação negativa porque o regulamento do Bra­­sileiro não permite.

Publicidade