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Se viva estivesse, Sonia Nassar teria feito 60 anos ontem. E certamente contaria, pois não era daquelas de esconder a idade.

Lembrei-me dela, primeiro pelas saudades de uma grande companheira que nos deixou precocemente. Segundo, por um post no Facebook de outra jornalista e fotógrafa também de cacife. Lucília Guimarães reclamou da dificuldade que sentiu para cobrir o anúncio oficial do início das obras na Baixada para a Copa do Mundo. "Hoje já não se sabe quem é quem neste amontoado de fotógrafos, cinegrafistas e blogueiros que se atropelam nos eventos. Na Baixada a confusão era tanta que quase nenhum registrou direito a notícia" – protestou, lembrando que "a ‘velha’ imprensa ao menos respeitava o outro, compartilhava o mesmo espaço sem empurrões e deixava o mínimo de espaço necessário para registrar o momento".

É que hoje todos se julgam jornalistas. O carinha escreve algumas linhas no blog e já se acha o papa da imprensa esportiva, exigindo credenciamento a qualquer evento e o mesmo tratamento dispensado à grande imprensa. Há bons blogueiros, claro, mas – tirando os jornalistas que também utilizam esse espaço aberto na net como um descarte paralelo de opiniões e informações – ainda são poucos os que vêm de outros caminhos e merecem plena consideração. Mas, num evento assim, de interesse esportivo e político, quanto mais gente tiver, melhor.

Fiquei tentando imaginar se Sonia (ela detestava ser chamada de Soninha, é bom que se diga) hoje teria um blog. Claro que sim, ainda mais ela que tinha por anos uma coluna sobre os bastidores da imprensa esportiva, sua "Plumas e Paetês", ponto de leitura obrigatória da classe.

Sonia sofreu muito pelas barreiras que o machista esporte bretão impunha. Por aqui, futebol era coisa de homem. Para jogar e para cobrir. Não era como hoje, com salas de imprensa e jogadores escalados pela assessoria de comunicação do clube. Era mesmo no peito e na raça. Vestiário aberto, entravam os jornalistas e radialistas (a crônica esportiva, como se dizia) para as impressões finais sobre a peleja. Alguns jogadores ainda no chuveiro, mas tudo bem, importante era ouvi-los. Imagine as dificuldades que ela passava. Mas nunca deixou de cobrir com qualidade os clubes e eventos para os quais era escalada.

Não foi a pioneira (se não me engano, Terezinha Cardoso e Malu Maranhão cobriram futebol antes dela), mas talvez tenha sido a mais importante, abrindo espaço para essa nova geração de jornalistas belas e competentes que hoje estão por toda parte – rádio, jornal, televisão e internet –, distribuindo um pouco mais de charme na rotina ainda machista desse mundo do futebol.

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