Durante a minha infância em Brasília o programa de domingo era ir para um cineteatro de nome Bruni ver a programação infantil com os sensacionais clássicos da Disney. O Bruni ficava num prédio moderno, grande, daqueles que surgiam quase diariamente naquela Brasília dos anos 60. No hall gigantesco do edifício havia um boliche. E não era um qualquer; pra mim aquele boliche era o lugar mais legal do mundo. Lembro bem do som das bolas derrubando os pinos, da iluminação de filme americano, do cheiro das pistas oleosas que brilhavam entre sapatos bicolores e calças cigarretes fazendo a festa que nunca parava (na minha grande imaginação) para os admiradores deste, digamos, esporte. No meio dessa coisa toda de boliche me veio na mente dois grandes filmes independentes feitos sobre a atmosfera inebriante do esporte dos pinos. Kingpin, Estes Loucos Reis dos Boliches e o imperdível O Grande Lebowski, filme tão cultuado que em Nova Iorque tem uma loja chamada The Little Lebowski, onde se encontra somente arquivos ligados a esse filme.
A prática do boliche em terras canarinhas deu-se na década de 60 com o advento da "febre do boliche". São Paulo chegou a contar com mais de 100 casas espalhadas em suas diversas cidades. Estrelas da época, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Belo eram frequentadoras assíduas destas casas. Afinal, o boliche é um dos únicos esportes que se pode jogar tomando umas e outras, pois é jogado praticamente dentro de um bar. Opa! Novamente meu faro perdigueiro apontou para outro esporte. O boliche foi um dos esportes de exibição na Olimpíada de Seul, em 1988, num torneio sem distribuição de medalhas. O Brasil foi medalhista (prata nas duplas) num Pan-Americano, em 2007, no Rio.
É um que esporte faz girar a roda fortuna, pistas, bolas, vestuário e outros apetrechos pululam em sites de compra e venda. Uma bola importada, usada, de material sintético e ótima para pistas oleosas, não sai por menos de 300 suados reais. O preço de uma única pista é indizível e o dos acessórios (como uma máquina de passar óleo de sete mil lascas) inominável. Agora, no século 21, o propósito do óleo sobre as pistas continua sendo de proteger e ainda criar reações das bolas de boliche, com isso, as bolas também evoluíram da borracha e do Uretano para a "Resina Reativa e para a Tecnologia de Partículas". Alguns cidadãos também ganham a vida como "técnicos", isto claro, quando há mais do que somente diversão envolvida. Uau!
O máximo para todo jogador que se preza é derrubar todos os pinos e obter os 300 pontos disputados em um jogo, com 12 strikes seguidos. O boliche, como em quase todos os esportes, tem também a sua pelada, uma opção mais simplificada, divertida e barata. É o bolão, jogado com apenas oito pinos e muito presente nos clubes de imigrantes de todo o sul. Que saudades devem sentir os frequentadores dos clubes Thalia, Sociedade Dom Pedro, União Juventus e Morgenau... Assim de cabeça não me lembro de nenhuma pista ativa na cidade de Curitiba. Não sobrou uma de pé. Crash!!!
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