"Sonhei com o Telê Santana e dei um abraço nele. Ele estava muito feliz no meu sonho e entendo que isso estava reservando um acontecimento importante. Para mim é uma honra ajudar a dar esse título ao Fluminense, o clube de Telê Santana", disse Muricy Ramalho depois do jogo em que emplacou seu quarto título brasileiro.
Muricy dormiu um sono profético com Telê, o "Fio de Esperança" apelido que ganhou, ainda jogador franzino, em concurso do Jornal dos Sports, dirigido pelo "criador de multidões" Mário Filho , mas poderia muito bem ter sonhado com o verdadeiro inventor do Tricolor das Laranjeiras, Nelson Rodrigues, irmão de Mário.
Nelson gastou incontáveis folhas de papel para combater as tentativas humoradas de desconstrução do Fluminense pelo confrade Armando Nogueira, que insistia em um Tricolor "lanterninha dos grandes".
Daí que Nelson inventou a "humildade tricolor", não recusando as "sandálias da humildade" franciscana, com direito a passarinho no ombro e tudo. E como grande clube, o melhor do mundo, segundo Nelson, tinha todo o direito de ser humilde.
Para provar a obstinada modéstia tricolor, em resposta às "piadas hediondas" de Armando, cravou que o Fluminense é o único time tricolor do mundo. O resto são apenas times de três cores.
Se Muricy tivesse permitido uns minutos de sonho com o profeta tricolor Nelson Rodrigues, certamente ele não teria apenas abraçado feliz o técnico de Conca e companhia. Também teria dito ao seu ouvido que "só os profetas enxergam o óbvio", aprovando a recusa de Muricy em abandonar o Fluminense para dirigir a seleção brasileira.
Há exatos um ano e um dia, o Coxa foi rebaixado e o Fluminense se safou da degola no empate por 1 a 1 no Couto, onde os dois se enfrentaram.
Hoje o Tricolor carioca e o Alviverde paranaense são os campeões das Séries A e B do Brasileirão (bicampeões, na verdade). Nunca se poderia imaginar tal feito depois daquele absurdo e improvável confronto.
Coisas incríveis acontecem no futebol. Essa, sem dúvida, foi uma delas.
E outra: o Flamengo foi campeão em 83 e 2009; o Flu campeão em 84 e 2010; o Coxa em 85. Será 2011 a vez do Coxa?
Seria uma sequência coincidente incrível. Se fosse profeta, afirmaria isso mesmo contra os prognósticos. Como não sou, vale apenas ficar de olho.
Incrível também foi o quinto lugar do Furacão, que fez a melhor campanha desde o vice-campeonato de 2004, apesar do sofrível ataque e o saldo negativo de dois gols.
Este cartunista e dublê de cronista esportivo entra em férias nesta semana e retorna em janeiro. Boas entradas e saídas. Prevejo que todos terão um belo 2011.