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Quatro dias após o adeus ao sonho do tricampeonato mundial, os uruguaios ainda não engavetaram a camisa celeste. Pelas ruas de Montevidéu, carros exibem suas bandeirinhas e buzinam no ritmo da torcida. A explicação para a euforia pós-eliminação é bastante simples: o futebol nacional parou na década de 1950. Desde então, o país celebrou somente quatro títulos da Copa América (1967/1983/1987/1995) e oito dos times locais, todos na Taça Libertadores da América, sendo o último em 1988. Ou seja, para quem não pode soltar o grito de campeão há 15 anos, a classificação às semifinais na Copa do Mundo da África do Sul é motivo de sobra para festa.

A constatação de que o futebol uruguaio parou no tempo vem direto do maior estádio do país. Em Montevidéu, o Centenário agoniza com uma placa em bronze do primeiro título mundial da Celeste, em 1930. Ali, dentro da casa do Nacional e do Peñarol, bem escondido, está o Museu do Futebol do Uruguai. A última taça conquistada pela seleção, referente à Copa América de 1995, divide o espaço de dois andares com artigos de luxo de Pelé e Maradona. E a voz rouca do guia Gerardo Galles já vai logo explicando:

"Queremos que esse lugar guarde lembranças de todo o continente, não apenas as nossas," afirma o funcionário que "nem se lembra mais há quanto tempo está trabalhando ali".

A ideia de abrir o museu uruguaio para os vizinhos de fronteiras tem uma explicação. Não é preciso da ajuda de uma calculadora para somar os títulos de toda a história de seu futebol: duas Copas do Mundo, 14 Copas Américas e oito Taças Libertadores da América, ou seja, 24 canecos levantados, sendo apenas 16 pela seleção, contra 38 do Brasil e 47 da Argentina.

Camisas de Pelé e Maradona são as mais procuradas

Um dos maiores tesouros do museu é uma foto em tamanho gigante do gol marcado por Ghiggia contra o Brasil na final de 1950. Ao lado da imagem, a legenda exalta: "gol do século". A camisa de número 5 usada pelo ídolo Obdulio Varela também tem um lugar especial. Porém, o guia confessa que os artigos mais procurados pelos visitantes são os uniformes de Pelé e Vavá em 1958, que ficam embaixo de uma foto do gol de bicicleta do Rei do Futebol, e de Maradona em 1986.

"Não ficamos chateados com isso. Não sou muito fã da Argentina, aliás acho que isso é quase uma unanimidade aqui (risos). Mas amo o Brasil, é o melhor futebol do mundo. Não acreditei quando vocês foram eliminados da Copa agora. Estavam irreconhecíveis," afirmou Galle.

Confiante de que a Celeste vai trazer para casa o terceiro lugar do Mundial, o experiente guia brinca com a expectativa para a próxima edição, que será no Brasil.

"Sempre torci para vocês nas Copas, mas acho que vai dar Uruguai em 2014. Pena que não tenho mais pernas, muito menos coração, para ir assistir a um novo Maracanazo," divertiu-se.

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