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Durante muito tempo – e até hoje, fora do país –, a seleção de futebol da Espanha foi conhecida como a Fúria. Era o codinome perfeito para uma equipe que, um ano após o outro, conquistava as manchetes por suas exibições exuberantes mas não pelas (escassas) vitórias. A "maldição das oitavas de final" pairava como uma sombra sobre os espanhóis; a cada competição internacional, mesmo os torcedores mais fiéis desconfiavam das possibilidades de uma seleção conhecida por ter muita força de vontade e pouco talento.

Ninguém quer falar em superstição, mas o fato é que, quando esse apelido deixou de ser usado, as coisas começaram a ir bem. O ano: 2004. A ocasião: a chegada de Luis Aragonés ao cargo de técnico da seleção. O motivo: estabelecer uma linha divisória entre o passado de sangue, suor e lágrimas e um futuro de glórias. Quatro anos depois a Espanha conquistava a Eurocopa vencendo a Alemanha e convencendo todo o mundo de que seu "status" havia mudado. Pode ser só coincidência, mas o nome "Furia" sumiu dos jornais, rádios e tevês, e também do vocabulário dos torcedores.

"É uma questão de identidade. Fúria tem a ver com garra, força, era adequado para definir os jogadores daquela época. É um nome que ficou muito ligado a uma tradição de coragem. Normalmente, havia quatro, cinco jogadores talentosos e os demais chegavam a ser até medíocres," explica Miguel Ángel Días, autor do livro "Los secretos de la Roja", deixando claro que isso era pouco para uma seleção que queria ser campeã.

Opinião semelhante tem Jorge Valdano, ex-jogador do Real Madrid e hoje Diretor Esportivo do clube. Após uma derrota da seleção espanhola, ele teria dito que "a fúria é um estado de ânimo, não um estilo de jogo". Nada a ver com os atuais atletas, em sua maioria descobertos nas escolinhas dos grandes clubes, todos de grande projeção internacional.

"Surgiu uma nova geração, são os garotos que começaram no futebol nos anos 90. Graças a eles agora a Espanha tem outro estilo, de tocar a bola, dominar o meio de campo como método para ganhar as partidas. Houve uma grande mudança e isso se refletiu na troca de nome," analisa o escritor.

Para Días, a mudança de nome também se deve à nova torcida que emerge no país.

"Aqui nunca houve cultura de torcer pela seleção, cada um torcia para o seu time, o Real Madrid, o Barcelona... isso começou a mudar com a Eurocopa, e neste momento não sabíamos como chamar a equipe para que todos se reconhecessem nela," explica. Foi então que o novo nome proposto por Luís Aragonés começou a ser usado massivamente, e a Fúria, a cair no esquecimento.

Mas a mudança não esteve livre de polêmica. Quando começou a ser usado, o apelido "La Roja" fez os torcedores mais desconfiados imaginarem um possível significado político (historicamente se chamaram de "rojos" aos comunistas espanhóis). Nada mais equivocado. Perguntado sobre a escolha do novo nome, o historiador de futebol Miguel Ángel Mateo garante que a proposta do então recém-chegado Aragonés não teve nenhuma intenção política.

"Era simplesmente pela cor da camisa. O nome deu certo porque, como diria um especialista em marketing, é pequeno, entra pelos olhos e é fácil de lembrar," diz.

Aragonés desejava que a Espanha tivesse com seus torcedores e o resto do mundo uma identificação tão forte e imediata como dois gigantes do futebol.

"Eu gostaría que a seleção tivesse um nome, uma identidade. Assim como o Brasil é a canarinha e a Argentina é a alviceleste, eu gostaria que a Espanha fosse "La Roja"," disse o treinador na época, sem imaginar que com esse nome seria campeão da Eurocopa depois de 44 anos de espera.

O que teve significado político foram as cores que a camisa oficial da seleção teve durante distintas épocas da história. Nos anos 20, a vestimenta era vermelha como a atual, o que deu origem ao nome "Furia Rossa" (Fúria Vermelha), dado por um jornalista italiano quando a Espanha enfrentou a Itália por primeira vez – e ganhou.

Durante a guerra civil, a seleção usou em jogos que hoje não são considerados oficiais uma camisa branca com um emblema franquista. Nos primeiros anos da ditadura, o uniforme oficial passou a ser azul, cor dos fascistas, mas em 1947 o então Delegado Nacional de Esportes, o general José Moscardó, decidiu devolver o vermelho original à seleção. E, apesar de nunca mais ter mudado, foram necessários 60 anos para que a cor da camisa ganhasse a notoriedade que tem hoje.

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