O sentimento geral a essa altura do espetáculo é de que terminou a chamada "era Dunga". Vista do lado bom, seria o império do pragmatismo, da objetividade, dos resultados; do lado mau, a incultura, a pretensão e a truculência. A verdade é que o chamado lado bom é apenas uma das faces do lado mau; um jogo de futebol não é o departamento de uma empresa é só um jogo. Como metáfora, o jogo é justamente a hora de folga da empresa.
Mas sou pessimista sobre o suposto "fim da era Dunga". Acho que ela é a persistência de uma "era Brasil" (e, antes que digam que estou partidarizando a questão, o que seria ridículo, lembro que esse movimento vem de muito longe). A obediência com que todas as partes envolvidas, dos jogadores aos cartolas, se curvaram ao projeto tacanho da seleção brasileira é assustadora.
Uma salada que misturou autoajuda, fundamentalismo religioso e isolamento feroz foi se mantendo à tona pela sempre universal "política dos resultados". Como entre nós o futebol, pelos seus sinais, talvez seja a mais forte expressão do país da mobilidade social de poucos ao pensamento mágico de muitos , a seleção será sempre uma "pátria de chuteiras", repetindo o refrão anacrônico de Nelson Rodrigues.
O princípio da autoajuda é repetir uma bobagem qualquer até que se torne um mantra; misture-se a ela um fervor religioso e o pacote estará completo. Para um país que, em poucas décadas, saiu analfabeto do campo para a cidade tecnológica, a autoajuda foi a cultura mística que nos sobrou, à falta de escolas decentes.
Em outra ponta, Deus largou o cajado de Antonio Conselheiro e se tornou um empresário moderno, tocando o grande negócio da felicidade. O problema é que, no momento em que tiram o pirulito da mão de crianças mimadas um gol da Holanda , uma histeria completa destrói o time, que poderia ter ganho aquela partida tranquilamente.
Quando Dunga afirmou que não sabia se o apartheid era bom ou ruim porque ele não esteve lá, devíamos ter desconfiado de que o futebol era o menor de seus problemas. O que é um retrato do Brasil.
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