Entre todos os jogadores que estarão em campo amanhã, no Atletiba que decide o Campeonato Paranaense, só o meia atleticano Paulo Baier, de 35 anos, já havia nascido na última vez em que o Coritiba conquistou um título em cima do rival no Couto Pereira. Em 1978, há 32 anos, o Alviverde bateu o Furacão nos pênaltis (4 a 1), após três jogos e mais uma prorrogação que terminaram 0 a 0.
Para muitos, o triplo duelo é a maior decisão da história do futebol no estado. Ao todo, mais de 150 mil torcedores assistiram aos confrontos todos realizados no Alto da Glória. Pela cidade, a rivalidade entre rubro-negros e coxas-brancas aflorou como nunca na semana entre 10 e 17 de dezembro daquele ano.
Na época, o clube da Baixada amargava um jejum de oito temporadas sem conquistas. Já o Coxa, vivia sua década dourada. Havia sido hexacampeão estadual entre 71 e 76 e em 73 conquistara o Torneio do Povo (primeiro título nacional de uma equipe paranaense).
Para aumentar a angustia dos atleticanos e a euforia dos alviverdes, o Atlético dirigido por Diede Lameiro era superior tecnicamente ao experiente Coritiba de Chiquinho. Do lado do Verdão, a defesa, comandada pelo goleiro Manga, era o destaque. Com muitos méritos também ao habilidoso Pedro Rocha no meio de campo.
Já no Furacão, Rotta, Zé Roberto, Dreyer, Lula, Ziquita e Aladim que ficou no banco nas três partidas formavam um elenco mais talentoso. Porém, não conseguiu superar o rival e tirar o clube da fila.
"O Atlético tinha tudo para ser campeão, mas conseguimos segurar até as penalidades. Aí tínhamos mais experiência", lembra Cláudio Marques, zagueiro alviverde em 78, atualmente comentarista da TV Transamérica e da Rádio Brasil Tropical.
Para os atleticanos, restou a polêmica. Aladim, atualmente vereador de Curitiba, jura até hoje não saber o motivo de não ter entrado em nenhum dos jogos. Emprestado pelo Coxa, o ponta-esquerda era exímio batedor de pênaltis, e nem para isso foi solicitado. Nos bastidores, ficou a lenda de um suposto veto do eterno presidente coxa-branca Evangelino da Costa Neves.
"O Hélio Alves (diretor do Atlético) já morreu, o Diede também, e nunca me explicaram o motivo de eu não ter entrado nem para os pênaltis. Só o Mafuz (Augusto, advogado) diz que sabe por que não joguei, mas não conta de jeito nenhum", lamenta Aladim.
No entanto, mais de três décadas depois, Mafuz resolveu contar. Na época repórter da extinta Rádio Independência, o advogado puxa pela memória o que sabe da história.
"Entrevistei o Evangelino algum tempo depois e ele rindo me disse que ganhou o título da mesma maneira que havia perdido o do ano anterior (em 77 o Coxa foi superado pelo Grêmio Maringá, o treinador alviverde também era Diede Lameiro)", recorda Mafuz, nas entrelinhas, supondo que o técnico se vendeu nas duas decisões.
História que entrou para o folclore do futebol e foi reforçada pelo fato de Lameiro ter ido para o vestiário antes mesmo das cobranças de pênaltis. "Ele foi embora dizendo que tinha cumprido a parte dele. Fui eu que decidi quem iria bater os pênaltis", afirma o ex-atacante argentino Dreyer.
Na hora das cobranças, impossível esquecer do goleiro Manga. Na época, com 41 anos, o camisa 1 defendeu duas penalidades e transformou-se em herói do título. Atualmente, Manga vive no Equador, no entanto, voltará ao Brasil a partir da semana que vem para ser embaixador do Internacional. "Era um dos melhores goleiros do Brasil na época", elogia o então lateral-esquerdo atleticano Dionísio.
Mas tudo o que Manga tinha de bom em campo, tinha de problema fora dele. Durante a semana das finais, simulou uma contusão para forçar Evangelino a aumentar seu bicho pela conquista. No intervalo da finalíssima, disse que não poderia voltar e conseguiu mais dinheiro para defender pênaltis supostamente no sacrifício.
"Ele não tinha contusão nenhuma. Inventou aquilo tudo para conseguir mais dinheiro. Tudo que recebia gastava em corrida de cavalo e sempre haviam mulheres esperando ele fora do estádio para cobrá-lo", recorda Cláudio Marques.
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