Origem
Documentos em alemão podem comprovar oficialmente a ligação do Coxa com o Teuto Brasileiro
Os fortes indícios de que a história do Coritiba estava diretamente ligada ao clube Teuto Brasileiro (atual Duque de Caxias) estão oficialmente comprovados. Pelo menos é o que garante uma ata descoberta em uma parede falsa de uma casa em Francisco Beltrão, no interior do estado. O anúncio foi feito no vagão cinco do trem que levou, no sábado, a comitiva alviverde para o Amistoso das Origens.
O centenário documento escrito em alemão indica que o processo de fundação do Coritiba realmente começou na volta do amistoso contra o Tiro Rio Branco de Ponta Grossa, há 100 anos, e que, antes do jogo, houve um desentendimento entre o grupo.
Por causa da 2ª Guerra Mundial, todos os documentos em alemão deveriam ser entregues ao governo. No entanto, os papéis relativos ao Coxa foram escondidos em Beltrão e apenas recentemente foram descobertos.
"Quando terminarmos toda a tradução, vamos doá-lo ao Coritiba. A história do clube está aqui", disse o Manoel de Azevedo, presidente do Clube Duque de Caxias.
Assim que entrou em um túnel, o trem que seguia para Ponta Grossa foi tomado pela escuridão. Quase que imediatamente, o inconfundível barulho dos vagões sobre os trilhos não podia mais ser ouvido. O único som que os passageiros escutavam era o produzido por eles mesmos. "Verdão, ê ô", gritavam. "Coxa, Coxa", continuaram, eufóricos, até que o túnel ficou para trás.Tal alegria não era para menos. Os quase 500 apaixonados torcedores que saíram de Curitiba às 7h21 de sábado sabiam que estariam escrevendo um novo capítulo da história do Coritiba. Aliás, reescrevendo, já que o "Amistoso das Origens Um dia Inesquecível" pretendia reconstruir os primeiros passos da secular trajetória alviverde. Cem anos depois da viagem de trem para o jogo entre Teuto Brasileiro e Tiro Rio Branco de Ponta Grossa (o primeiro do futebol paranaense e que marcou a fundação Coritiba), uma locomotiva e oito vagões cheios de coxas-brancas rumaram 140 km dentro do interior do estado. Entre eles, vários ex-atletas, que mais tarde enfrentariam o time master do Operário Ferroviário em uma partida amistosa, cujo pontapé inicial seria dado por filhos de dois fundadores do clube."Eu duvido de que outro clube tenha a oportunidade de fazer o que o Coritiba está fazendo. Isso é uma coisa de grande valor para nós", disse, orgulhoso, o presidente Jair Cirino.
"É uma satisfação muito grande reviver esse primeiro jogo da história", emendou Pachequinho, mostrando estar em forma ao marcar duas vezes e dar duas assistências para Jétson balançar a rede do Fantasma, na goleada por 5 a 1.
A bela paisagem dos Campos Gerais, aliada ao clima bem-humorado nos vagões, fez com que as mais de cinco horas de viagem passassem rápido. Apresentações humorísticas, brincadeiras, sorteio de brindes, shows de mágica e, claro, provocações ao maior rival (tratado apenas como A. Paranaense), animaram os torcedores.
"Valeu a pena. O passeio de trem foi excelente, foi muito bonito mesmo", apontou o aposentado Nelson Scwarzbach, que há mais de seis décadas apoia o Coritiba.
Depois do almoço em um tradicional restaurante da cidade, a massa verde e branca seguiu, de ônibus, para local do embate. A leve garoa que caiu no início do jogo não incomodou tanto quanto as modestas e rubro-negras arquibancadas do Estádio Dr. Joaquim de Paula Xavier.
Mas nem isso foi capaz de impedir que eles se sentissem em casa. A cada jogada, os antigos ídolos recebiam aplausos e tinham seus nomes exaltados. Toby, Ademir Alcântara, Jatobá, Heraldo, Dida, Ronald, Cláudio Marques e Reginaldo Nascimento (que por sinal fez um golaço por cobertura) eram alguns dos que faziam a torcida voltar no passado.
"Me sinto muito orgulhoso por participar disso. É incrível poder rever alguns jogadores e ver em campo aqueles que apenas havia ouvido histórias, como o Jairo", disse o empolgado estudante Maurício Nichele. "A iniciativa foi muito boa. O contato com a torcida é muito gratificante, satisfaz o ego", garantiu o ex-goleiro Jairo.
Depois dos 70 minutos de partida, a noite já começava a cair. O retorno para casa, no entanto, foi de ônibus, não de trem, como fizeram os fundadores do Coritiba.
"Tenho certeza de que aqueles jovens descendentes de alemães, que no início do século fizeram esse trajeto, jamais suspeitaram da extensão e da importância que aquele ato representaria. A prova disso é que, 100 anos depois, toda uma nação viaja para reviver aquele momento", fechou Cirino, sem esconder a satisfação por estar ali.
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