Rubens Barrichelo acredita que tem a melhor oportunidade da carreira para vencer o GP Brasil, que será disputado no próximo domingo, em Interlagos. O piloto está em total sintonia com o carro e o público e falou com exclusividade ao "Esporte Espetacular" sobre as várias razões que tornam a prova em São Paulo especial.
O brasileiro, que está a 14 pontos de diferença do líder Jenson Button, esbanjou bom humor em um bate papo com Luciano Burti, convocou a torcida para a prova e ainda comentou os vários momentos que já viveu na pista paulista, considerada o quintal de sua infância. Determinação para Rubens Barrichello viver mais um capítulo épico no autódromo não falta. Confira!
O SIGNIFICADO DO GP DO BRASIL
"Para mim é tudo. É onde eu nasci e a ida a Interlagos para correr é o que é do ano. É um sentimento épico. E o GP Brasil é um momento especial do ano. Ele tinha um gosto especial por ser a primeira prova. Depois passou para o final e o brasileiro merece ver a disputa pelo título aqui. Se bem que agora a gente espera que não se decida. Hoje o gosto é ainda mais especial por eu chegar com um carro competitivo, e lutando pelo título."
EM 2009, A MELHOR CHANCE DA VIDA?
"Durante os seis anos de Ferrari, eu tive chances boas. Sempre andei forte, já fiz pole. Em 2003, tive a melhor chance, mas teve falha no carro. Para uma pessoa que se dá chance, sempre tem um algo a mais para a próxima. Então, eu diria que é a melhor chance por eu star na disputa e, para me manter vivo, é importante ganhar. É um momento especial."
RUBINHO, UM TORCEDOR EM INTERLAGOS
"Teve uma prova, em 1979 ou 1980. Logo Após a largada, o Mario Andretti bateu com a Lotus e, na pancada, a roda caiu muito próximo de onde eu estava. Lembro bem desse dia porque passei a corrida inteira tentando dar um jeito de tocar naquele pneu. Era gigante, comparado ao do kartinho."
ARQUIBANCADA PREDILETA
"Eu já vi muita corrida da arquibancada e a do laranjinha é a minha favorita porque é de onde dá para ver o miolo e curva da ferradura. Ali era o lugar especial da pista. Já vi de todas as outras fórmulas de lá, mas nunca a Fórmula 1."
INVASÃO DA TORCIDA NA VITÓRIA DE SENNA COMO INSPIRAÇÃO
"Em 1993, foi ano em que quebrei muito cedo e minha caminha foi longa, da junção aos boxes. O público me deixou emocionado, mas foi momento delicado porque eu queria estar na pista, teve chuva na prova e eu tinha chance. Eu lembro da confusão com a invasão e para sair de Interlagos naquele dia demorou pelo menos uma hora e meia. Foi muito bacana ver o alvoroço e sonhar em ter, um dia, aquilo para mim."
EMOÇÕES À FLOR DA PELE
"Minha maior alegria foi o pódio em 2004. Claro que o terceiro lugar fica aquém do que sempre sonhei, mas poder participar do pódio foi especial. Interlagos é muito especial, não só por momentos específicos. O dia a dia em si e a qualidade da vida que eu tenho hoje, comparada com momentos anteriores que eu vivi no mesmo local, fazem o fim de semana todo ser muito especial."
MURO DOS SONHOS
"Aquele murinho riscado, que separa a pista de kart, a gente conseguia escalar. Lá eu fiz amigos do outro lado, como o próprio Alexandre Barros, correndo de mobilete. Ali eu sempre ficava sonhando! Foram oito anos no kart e era aquilo mesmo. Subir no muro e presenciar para sonhar em um dia estar do outro lado do muro, já que tinha esse brinde de ver corridas especiais no mesmo dia em que eu corria de kart."
UM OLHO NA PISTA E OUTRO NO POVO
"Na corrida de Interlagos, em 1999, coloquei carro na terceira posição durante a classificação, e no sábado o autódromo já fica cheio. Lembro do público torcendo, vibrando. E na prova, depois de liderar por alguns minutos, antes do problema que eu tive no carro, tenho a imagem da torcida. Você sai da curva do café e vê o publico levantando, pelo canto de olho. Isso torna Interlagos especial."
CRAQUE NO CAMINHÃO
"Deve ser como um jogador de futebol dentro de um Morumbi ou um Maracanã, em um dia de clássico, quando entra no estádio e vê a torcida gritando o seu nome. Aquilo cria uma expectativa interessante. É um dos momentos mais especiais do evento porque na hora do grid a intenção é se distanciar e ficar concentrado. Mas no caminhão, naquela volta, uma hora antes é a hora de curtir esse carinho, com a bandeira do Brasil. Para esse ano, é um dos momentos que mais espero."
APROVEITA, RUBINHO!
"Espero casa lotada e que eu possa ter fim de semana positivo. É um momento para desfrutar tudo o que plantei e acho que agora estou começando a colher. Estou no pico da minha performance, mentalmente bem, fazendo o que gosto e aproveitando ao máximo essa energia. Quem torce mesmo é pelo brasileiro, muito mais coração. Não é como um torcedor de uma equipe, como o da Ferrari."
TANTAS EMOÇÕES
"Todos os momentos tiveram pedaços especiais. A estreia foi marcante pelo fato claro de estar com um F-1 em Interlagos, onde vivi minha infância. Mas em 2000 foi a primeira com um carro competitivo, ali foi outro tipo de aproximação com o público. O resultado marca e o mais especial é o que cheguei ao pódio, mas espero outros ainda mais especiais."
ESCAPOU POR POUCO
"Em 2003, é um fato interessantíssimo, apesar de ser triste porque o meu carro quebrou. A gente sempre falou que o Michael sempre foi um piloto de muita sorte. Naquela prova, ele bateu, mas se não tivesse teria acabado a gasolina dele antes do que a minha. Com isso, nós teríamos entendido que eu deveria parar antes porque tínhamos uma leitura errada da telemetria. Acabou a minha gasolina, literalmente. Se ele não tivesse batido aquele grande prêmio com certeza estaria na mão porque a gasolina dele acabaria antes."
A HORA É AGORA!
"Acho que essa coisa acaba sendo fraqueza, não tem sorte. Interlagos é especial por razões emocionais, mas no papel é como qualquer outro. Então, aconteceram milhares de coisas, erros humanos, eu já errei. Mas a prova está ali para ser ganha, tem que acertar uma coisinha a mais, uma pole. Se estiver na hora certa no momento certo, dá para ganhar, como o Felipe mostrou."
SEM SUPERSTIÇÃO
"Já perdi meus hábitos supersticiosos. Já tive aquela coisa de não passar embaixo de escada, de usar uma cueca vermelha. No começo, na Fórmula 3, ganhei com aquela cueca. Então eu ficava pensando em acordar no mesmo horário do dia em que ganhei, repetir as mesmas coisas e tal. Mas, com o tempo, perdi o horário, corri com outra cueca, entrei pelo lado errado do carro, e também ganhei. A gente vai vendo que é um fato mental, que vai passando."
BUTTON EM DECADÊNCIA?
"Não acho que o Button caiu de rendimento desde o meio do ano. A calota traseira traz benefício para o carro, uma vantagem aerodinâmica mesmo. Ele sempre teve esse tipo de freio, há quatro anos, e eu não conseguia me adaptar porque para mim não mudava nada. Mas esse ano, com menos treinos, isso virou um pesadelo porque eu acabava perdendo por milésimos de segundo. A partir do momento em que me acostumei com os freios, em Silverstone, começamos a jogar de igual para a igual. E acho que isso incomoda: um companheiro que não estava lá, que de repente está. E ainda um pouco melhor em certas condições. Ele ficou menos estável, e para mim foi sensacional essa metade do ano. Tenho que carregar isso para as duas corridas."
INTERLAGOS
"Eu diria que é uma pista mais para a Brawn, com curvas lentas e médias, apesar da do laranjinha ser de alta. A Brawn tem características melhores para a pista. E Suzuka a RBR andava mais curvas de alta, a temperatura não era exatamente o que a gente precisava. Interlagos deve estar quente ou com chuva. Mas carros com kers vão andar forte. Nós temos perda de potência de Interlagos por não ser no nível do mar, o kers deve ajudar. E a McLaren evoluiu mais do que a Ferrari. Acho que, principalmente a pole position, vai ser disputada com eles."
COLABORA, SÃO PEDRO
"Nosso carro não é ótimo na chuva, é apenas bom. Fica aquém do que é no seco, condição em que ele é excelente. Nosso carro apresentou uma consistência maior que os da RBR durante o ano, mas na chuva não consegue passar a carga aerodinâmica da maneira que a gente quer, o balanço do carro fica problemático. É melhor pista seca!"
DÚVIDA PARA 2010 ATRAPALHA?
"Por mim não influencia, até porque no ano passado eu vivi o dilema de assinar ou não um contrato. Eu aprendi com isso e tenho feito meu papel direitinho. Acho que nossos contratos foram atrasados exatamente porque a Brawn quer os dois focados somente no campeonato. Isso provoca, com certeza, conversas com outras equipes e outros interesses. Mas com você na disputa, as pessoas te olham com outros olhos, diferentemente do que ocorreu no ano passado, quando eu estava em 13o ou 14o, com a Honda. Quanto a isso eu tive tranqüilidade de falar com muita gente. Com a própria Brawn eu falei muito, mas isso teve uma queda depois da Hungria, quando tivemos uma dificuldade no desenvolvimento do carro e a Brawn deixou claro que o foco era o campeonato em si."
E O FUTURO?
"Estou muito tranquilo, com 99% chance de estar no ano que vem correndo, estou com os dois pés lá dentro. Eu ainda tenho muito gás. Vou dar tudo para ganhar esse ano. E quero muito um carro competitivo para o ano que vem também. Estou com 100% de vontade de continuar porque eu quero aproveitar esse momento de pico. Tenho usado, mais do que a velocidade, o aspecto mental e emocional. Estou superbem, no geral. E venho utilizando essa energia gostosa do Brasil, que empurra, e quero um carro competitivo para o ano que vem. Não é o fato de simplesmente estar lá, marcando número. Quero estar lá fazendo bem feito."
PREFERE VENCER O GP BRASIL OU O MUNDIAL?
"Se for para escolher uma única opção, seria vencer o campeonato mundial."
RECADO AO TORCEDOR BRASILEIRO
"Eu sempre tive relacionamento muito próximo com o torcedor. No ano passado, em Interlagos, nós estávamos lá, torcendo para o Felipe Massa ganhar, e mesmo assim eu consegui escutar o meu nome sendo gritado. Vai ser um momento muito emocionante por poder estar ali com o torcedor, bem perto. E estou bem porque o torcedor está ajudando também. Eu sinto uma coisa gostosa e prometo dar tudo do meu, para tirar muita raça e determinação para sair vitorioso em um fim de semana que vai nos ajudar a seguir vivo no campeonato. Espero que o torcedor esteja na pista para torcer, e a casa cheia vai ajudar ainda mais a tirar esse positivismo e essa coisa forte, de energia."
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