Menosprezo ao Atletiba, precariedade financeira e racha no elenco. Vinte anos depois, este é o diagnóstico do técnico Sérgio Cosme e dos jogadores do Atlético da situação daquela equipe humilhada por 5 a 1 pelo Coritiba, na tarde de 16 de abril, no Couto Pereira.
“Confesso que eu não sabia o que era o Atletiba, o que poderia ocorrer em caso de derrota. Tratei o jogo como se fosse um compromisso normal”, aponta Sério Cosme, 64 anos, hoje técnico de um programa de treinamento do Sindicado dos Atletas de Futebol do Rio de Janeiro (Saferj).
Cosme teve passagem brevíssima pela Baixada. Foi anunciado em 30 de março, para substituir Hélio dos Anjos, demitido no dia anterior. Comandou o time nas vitórias sobre Matsubara (3 a 0) e Londrina (1 a 0) antes do clássico.
“Senti na pele. O clima ficou pesado e nada mais deu certo depois”, relembra Cosme. O carioca durou ainda duas partidas, empate com Iraty (1 a 1) e derrota para o União (1 a 0). “Percebi que a situação do presidente [Hussein Zraik] era difícil, e como ele que me trouxe, decidi ir embora”.
Em menos de um mês, o treinador dirigiu um elenco que sofria com atrasos de salários. Atletas chegaram a ser despejados dos apartamentos alugados pelo Rubro-Negro. “Era terrível”, recorda o ex-volante Leomar, atualmente envolvido com formação no futebol.
Criado na Baixada, o camisa 5 foi um dos poucos a sobreviver à catástrofe do Atletiba de Páscoa. A maioria deixou o clube antes do início do Brasileiro da Série B, amaldiçoados pela goleada.
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Outro cenário era rotineiro no Furacão do início dos anos 90: imposições de empresários na escalação do time. Caso um jogador pertencesse, ou tivesse sido indicado por determinado agente, ganhava preferência para entrar em campo.
“Fui o capitão do time por algum tempo. E cansei de ouvir treinador dizer ‘não dá mais pra mim, não tenho forças’. Alguns falavam abertamente que tal atleta tinha que jogar de qualquer maneira”, conta o ex-goleiro Gilmar, hoje empresário do ramo de reciclagem em Caxias do Sul-RS.
O Rubro-Negro enfrentava ainda uma crise no elenco. Um grupo tinha Gilmar, o zagueiro China, o volante Alaércio, o atacante Paulinho Kobayashi, o lateral-esquerdo Biro e outros que vieram com Hélio dos Anjos. Na segunda turma, destaque para o zagueiro Pádua, o atacante Carlinhos e o volante Mastrillo, considerado “desagregador”.
“Nosso time estava um pouco perdido. Tínhamos pouco acesso à diretoria. Eu falo com orgulho que passei pelo Atlético, mas confesso que não joguei nada. Tinha um nome e tudo mais, e não deu certo. Ficamos marcados pelo Atletiba”, afirma Paulinho Kobayashi, auxiliar-técnico do Rio Branco-SP.