O drible mais espetacular do ano já tem dono. Ele não é de Messi ou Cristiano Ronaldo. Mas sim de Joseph Blatter, que anunciou nesta semana o fim de seu mandato, acuado e pressionado por patrocinadores e polícia. Mas, no estilo que o marcou por 40 anos, o cartola não deixou o poder e, nos bastidores, prepara o que muitos já chamam de golpe. Ele fechou um acordo que garante sua saída, mas o permite tempo para apagar qualquer rastro de irregularidades e construir um sucessor que possa o blindar por mais uma década, possivelmente a última de sua vida.
Acima de tudo, porém, ele promete uma reforma na Fifa para dar mais poder a africanos, latino-americanos e asiáticos, enfraquecendo a Uefa e colocando um limite à influência de grandes federações.
Assessorado por seus advogados, Blatter em nenhum momento em seu discurso usou a palavra “renúncia”. Apenas indicou que entregaria seu mandato e continuaria trabalhando para uma reforma da Fifa. Entre seus aliados, ninguém espera que ele se mantenha no poder diante do risco de uma investigação nos Estados Unidos e da pressão dos patrocinadores.
Mas, na prática, ele retirou de si parte da pressão e abriu caminho para montar uma estrutura que o continue blindado. “Blatter não jogou a toalha simplesmente sob pressão”, afirmou François Carrard, ex-diretor-geral do Comitê Olímpico Internacional (COI) e velho amigo do suíço. “A imprensa e outros atores subestimam a inteligência de Blatter”, atacou. “Ao fixar um congresso extraordinário no qual ele entregará seu mandato, ele mostra que vai sair quando ele achar adequado. Isso pode ocorrer em março de 2016, coincidentemente quando ele cumpre 80 anos”, disse. “Mesmo que ele não se anuncie como candidato, ele vai tentar uma reforma e preparar sua sucessão. Ele agirá rapidamente”, disse o ex-dirigente.
No centro de sua proposta está a reforma da Fifa. Mas fontes próximas ao suíço confirmam que a meta é a de enfraquecer a Uefa. Hoje, o Comitê Executivo da Fifa tem seus nomes escolhidos pelas confederações regionais. Blatter quer que o voto seja das 209 federações nacionais, justamente no formato onde ele sabe que melhor pode influenciar e barganhar votos. “Na prática, o que Blatter está fazendo é um golpe branco”, disse uma fonte em Zurique, na condição de anonimato. “Ele deixará o cargo. Mas não permitirá que os europeus vençam”.
Sucessor
Outra meta de Blatter nos próximos meses é a de encontrar um sucessor, em uma guerra que promete ser das mais intensas. Desde este sábado, nos diversos campos, a ordem é silêncio absoluto. O suíço anunciou que não vai à reunião do Comitê Olímpico Internacional, que ocorre na semana que vem em Lausanne. O cartola de 79 passou a fazer parte do COI em 1999, um ano depois de assumir a presidência da Fifa.
Seus concorrentes também optaram pelo silêncio. Michel Platini, presidente da Uefa, cancelou a reunião que estava marcada entre os dirigentes europeus em Berlim, neste domingo, enquanto manobra seus apoios e tenta construir alianças. Sua ordem às federações nacionais é também a de manter silêncio.
Mas o francês costura uma aliança com o sul-coreano Chung Mong-joon, que também indicou que poderia ter interesse no cargo. Ele é apoiado por uma das patrocinadores das Copas, a Hyundai.
Blatter, porém, quer encontrar alguém que possa atrair o seu eleitorado, principalmente africanos e outros países em desenvolvimento. O nome mais forte era o de Jeff Webb, presidente da Concacaf. Mas ele está preso desde a semana passada.
Uma opção que começa a ganhar força é Ahmad al-Fahad al-Sabah, um ex-soldado do Exército do Kuwait, ex-ministro do Petróleo, ex-presidente da poderosa Opep e que, com seus cabelos longos, lidera os movimentos olímpicos da Ásia. Sua entidade distribuiu apenas em 2014 US$ 98 milhões em doações e sua influência cresceu.
Foi ele que trouxe votos para a eleição do alemçao Thomas Bach para a presidência do COI e, nos bastidores, passou a ser um personagem incontornável no esporte. Seu discurso também é uma repetição do que Joseph Blatter tem dito nos últimos dias, apontando para um complô dos Estados Unidos e algo que agrada aos ouvidos dos eleitores do cartola suíço na Fifa.
Sobre as prisões dos cartolas, Ahmad al-Fahad al-Sabah atacou o FBI. “Houve uma reunião do comitê no continente americano há seis semanas. Por que não fizeram as prisões la?”, questionou. “Ainda precisamos ver se existe um caso mesmo ou não”, insistiu.
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