Quando cobri meu primeiro GP de F1, em Interlagos, em 1997, a grande expectativa era para o duelo do então bicampeão Michael Schumacher com Jacques Villeneuve. O canadense levou o título após uma manobra que ajudou a criar no alemão a fama de "Dick Vigarista" (afinal, ele tentou repetir o que fez contra Damon Hill, jogando o carro para cima do rival, só que desta vez sem êxito).
O alemão ainda carrega o estigma das irregularidades descobertas na Benetton, onde ele foi bicampeão, em 1994 e 1995, de outras manobras, como a parada de propósito em Mônaco (para impedir a pole de Alonso), a "ditadura" nos anos de Ferrari (relegando Irvine e Barrichello ao posto claro de segundo piloto) etc.
Concordo que Schumacher pode ser considerado culpado de todos esses incidentes. Mas o que o torcedor em geral não gosta no alemão (o brasileiro, principalmente) não pode ser considerado culpa dele: a falta de um grande rival, obviamente causada pelo vácuo deixado pela morte de Senna em 1994. Veja que emblemático: a primeira pole da carreira de Schumacher é justamente no GP seguinte ao acidente fatal do brasileiro...
OK, houve Damon Hill, Villeneuve, Hakkinen... Mas a supremacia de Schumacher se deu justamente nos anos de Ferrari, de 2000 a 2005, quando ele estabeleceu um outro nível de excelência para quem quer ser campeão na F1. Algo como Jackie Stewart colocou nos anos 1970, Prost nos 1980, Senna nos 1990...
Fernando Alonso conseguiu quebrar a hegemonia, e o alemão viu que era hora de parar. Quando o nível da turma se elevou e Schumacher quis "brincar novamente", o problema era outro: sua idade. Em um esporte de alto rendimento, o piloto da Mercedes realmente decepcionou. Aos seus fãs e a ele mesmo.
Das lembranças desta segunda fase, em especial de 2012, fico com a alegria de vê-lo chegando à sala de imprensa em Mônaco para falar de sua "pole" (conquistada no treino, mas sem usufrui-la devido a uma punição). Ou do semblante orgulhoso na festa dos 300 GPs em Spa, onde recebeu a nós, jornalistas, e outros tantos integrantes da F1 para uma comemoração na qual ele parecia muito à vontade e orgulhoso de suas conquistas. Schumacher fará muita falta à F1. E a F1 fará muita falta a ele.
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