Thiago Braz da Silva nunca voou tão alto. Aos 22 anos, o garoto que foi abandonado pela mãe, criado pelos avós desde os três anos de idade, além de ser fanático por aviões, fez o salto de sua vida nesta segunda-feira (15).
Com a marca de 6,03m, bateu não só a si mesmo na final do salto com vara na Rio-2016. Derrotou também o recordista mundial e campeão em Londres-2012, o francês Renaud Lavillenie. Registrou seu recorde pessoal, olímpico e conquistou a inédita medalha de ouro para o Brasil na modalidade.
Thiago, que prefere o sobrenome Braz do que Da Silva (ele não queria ser mais um dos muitos Silva no país), realmente conseguiu se destacar.
Levou o Estádio OIímpico, que estava longe da lotação máxima, à loucura com seu feito. Um triunfo surpreendente, ainda mais da forma como a história se desenrolou.
Primeiro, o brasileiro quase não avançou para a final do salto com vara. No sábado (13), errou seus dois primeiros saltos. Quando não poderia falhar, conseguiu controlar os nervos. Acertou 5,60m – depois 5,70m – e avançou como zebra à decisão. Houve quem chamasse a classificação de milagre.
O início da prova foi conturbado. A chuva caiu forte e interrompeu o andamento dos saltos em mais de uma hora. Depois, o elevador que leva o sarrafo à marca também falhou e aumentou o atrasou. Assim como a tensão. Tudo teve de ser feito manualmente, à moda antiga.
E o cenário indicava que Lavillenie seria imbatível no Engenhão. Porém, o tempo foi passando e o sonho de uma medalha também se tornou mais plausível para o paulista de Marília. O canadense Shawnacy Barber, atual campeão mundial, por exemplo, caiu logo na segunda série de saltos (5,65m).
Aos poucos, os adversários foram ficando pelo caminho. Mas não seria fácil. Em 5,75 m, o atleta brasileiro precisou da segunda tentativa para seguir na competição. Na próxima marca, porém, caíram mais três concorrentes. O bronze já estava garantido.
Quando Sam Kendricks, dos Estados Unidos, não superou 5,93m, a prata virou realidade. O brasileiro igualou sua melhor marca da carreira na segunda chance. E aí sobraram apenas o brasileiro e o francês, que estava na ponta por não ter errado nenhuma vez até aquele momento.
Thiago, então, abdicou de tentar 5,98 m, altura superada com facilidade pelo europeu. A aposta foi alta. Tentar 6,03 m – que representaria o recorde olímpico – era a oportunidade de colocar a pressão do outro lado.
Antes, era preciso passar. A torcida empurrou. Gritou. Assistiu. Comemorou.
O brasileiro fez o inacreditável. Deixou o favorito pasmo. Depois, foi o momento de secar o europeu, que subiu o sarrafo para 6,08 m. Mas a noite era daquele fanático por aviões que voou como nunca sonhou.
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