Para quem engraxava as chuteiras na véspera do jogo, passava sebo na bola para ela ficar macia e sentia aquele friozinho no estômago quando entrava em campo para fazer a preliminar esquentando no sol da uma hora da tarde, o futebol moderno é um refresco. No futebol moderno os jogadores têm cuidados especiais, se alimentam bem, treinam com material esportivo de última geração, as bolas são ótimas e os gramados melhores do que no passado. E ainda recebem verdadeiras fortunas por se divertirem jogando futebol. Virou show business e nada mais do que isso.
Só na cabeça do torcedor, que sofre e vibra pelo seu time, o futebol ainda consegue manter alguns resquícios de purismo. Os jogadores, como Tostão disse outro dia, transformaram-se em atores, simulando contusões, rolando no gramado, pedindo cartão amarelo para o adversário em qualquer lance e beijando o escudo gravado na camisa como se fossem verdadeiramente apaixonados pelo clube que defendem.
Movimentando somas indecorosas um Cristiano Ronaldo pode valer R$ 250 milhões?! Ou Lucas, do São Paulo, vale R$ 108 milhões? o joguinho da bola abriu espaço para um mercado de múltiplos interesses. O jogo é o mesmo, pois as dimensões do campo são iguais, os árbitros continuam errando e acertando, a bola tem o peso que sempre teve e o objeto de desejo continua sendo a marcação do gol.
A mudança está nas cifras, nas pessoas envolvidas no próspero negócio e na exagerada valorização dos jogadores.
O jogador se tornou um bem que precisa sempre ser promovido, mesmo que não renda grande coisa para a equipe, para manter-se no mercado. E a máquina promocional funciona, pelo menos até certo ponto. Porque alguns são tão ruins que desmoronam com o tempo, por mais habilidade que tenham os responsáveis por sua carreira. Estou vacinado contra lobbies de cartolas e jogadores, mas reconheço que são ardilosos e insinuantes.
Mesmo correndo o risco de sacrificar a qualidade do espetáculo a Fifa programou jogos da Copa no Brasil para as 13 horas. Se nesse horário a lua estará fervendo, imaginem o sol.
Mineirão, Maracanã, Arena da Baixada e outros se transformarão em autênticas panelas de pressão. Mas é importante recordar que na Copa de 1970, quando a televisão ainda não influenciava tanto no faturamento da Fifa, houve diversas partidas ao meio-dia no sol escaldante do México e, em alguns casos, com o rendimento das seleções prejudicado pela altitude.
Cada vez mais a Fifa se rende aos interesses comerciais e depõe contra o que vem afirmando na defesa da saúde dos atletas, admitindo que falaram mais alto fatores do mercado global da tevê. Por isso sinto saudades das minhas chuteiras Gaeta, bico duro, em campos de terra chutando bolas avermelhadas que pesavam o dobro em dia de chuva. Éramos felizes e sabíamos.
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