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Copenhague - O Rio pôs fim ontem a uma assimetria política e desportiva que completará 120 anos, ao inaugurar uma nova era na história dos Jogos Olímpicos. Em 2016, a cidade brasileira se tornará a primeira da América do Sul a organizar uma Olimpíada. Para alcançar tamanha honraria, a candidatura do Brasil, que já tinha fracassado em três vezes anteriores, superou gigantes na eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), realizada em Copenhague, na Dinamarca: Chicago, Tóquio e, por fim, Madri, conseguindo uma vitória inapelável na última rodada da votação, com 66 votos a 32.
A eleição, transmitida para mais de 1 bilhão de pessoas, foi o final de três anos de uma disputa na qual a cidade brasileira partiu do descrédito quase total até o discreto favoritismo que envergou na última semana. A evolução pode ser explicada por um projeto técnico de excelência, uma apresentação impecável e um comprometimento político comparável apenas à candidatura de Madri. Para os membros do COI, o que mais contou foi o chamado que o Brasil fez à entidade: votar pelo Rio para 2016 seria optar por dar um novo caminho ao movimento olímpico, universalizando a Olimpíada e desfazendo as injustiças das últimas décadas.
A conjunção de fatores foi recompensada pelos delegados do COI, que reconheceram a força de dois argumentos, um racional, outro emocional: o desempenho econômico correto do Brasil, iniciado nos anos 90, e o fato de representar o subcontinente até então marginalizado, o que contrariava o espírito de universalidade dos Jogos Olímpicos. "A mensagem é clara", afirmou o belga Jacques Rogge, presidente do COI, após a revelação da vitória brasileira. "Escolhemos um argumento extremamente valioso: o de irmos pela primeira vez a um continente que nunca tinha realizado a Olimpíada. E eu acho que essa é uma importante decisão."
Para tanto, Davi teve de derrotar três versões de Golias. A primeira vitória do Rio foi construída sobre a favorita nas bolsas de apostas, Chicago, cuja candidatura foi defendida pelo presidente dos EUA, Barack Obama.
Mas Chicago acabou eliminado ainda no primeiro turno, ao terminar em último lugar entre as quatro candidatas. Com a adesão em massa dos eleitores da cidade norte-americana, o Rio assumiu a liderança da disputa, eliminando Tóquio e alcançando uma vitória esmagadora sobre Madri.
Além de todos os significados simbólicos, o Brasil repetirá o feito realizado pelo México nos anos 60, pela Alemanha nos anos 70 e pelos Estados Unidos nos anos 90, ao abrigar no intervalo de dois anos uma Copa do Mundo, em 2014, e uma Olimpíada, em 2016. "O que o COI decidiu vai aumentar a nossa responsabilidade enquanto brasileiros. Nós temos consciência do que é preciso fazer", reconheceu o presidente Lula, que ficou muito emocionado após a vitória do Rio. "Quebramos um último preconceito", definiu.
"O Brasil não pode perder essa oportunidade para mudar a história do país", afirmou o príncipe Albert, de Mônaco, um dos integrantes do COI que votou. "Uma realidade como essa não ocorre para um povo com muita frequência. O Brasil tem a chance de mudar seu destino", completou o monarca. "Era o momento do Brasil. A votação foi lógica", admitiu o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero, que não escondia a decepção com a derrota de Madri.
A epopeia brasileira para organizar a Olimpíada, cujo orçamento chega a R$ 28,8 bilhões, já começa hoje, ainda em Copenhague, quando ocorrerá a primeira reunião entre os dois coordenadores da campanha do Rio, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, e o secretário-geral da candidatura, Carlos Osório, com executivos do COI. O objetivo: definir um cronograma de trabalho.
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