Fernando Geraldi preside a Associação dos Patronos da Gralha Azul: grupo custeou túnel inflável na Vila e agora pretende ajudar a pagar salários atrasados| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Falta de apoio de torcedores não é o problema do Paraná. Pelo contrário. Se na Vila Capanema a média de público é baixa (1.830 pagantes) – um dos motivos que levaram o gerente de futebol, Marcus Vinícius, a cobrar a união dos paranistas para o clube não acabar –, nos bastidores a atuação dos tricolores tem sido fundamental para manter o clube de pé.

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Atualmente, por exemplo, o local de treinos do time foi viabilizado pelo empresário Luiz Felipe Rauen. Dono de uma empresa de cosméticos, ele se comprometeu a bancar o aluguel do CT por quatro anos, em troca de batizar o espaço de CT Racco. Além disso, ele paga R$ 75 mil mensais ao Paraná para estampar sua marca na camisa.

Na estreia do Paranaense, outra ação de torcedores pôde ser vista na Vila Capanema. A Associação dos Patronos da Gralha Azul (Apaga), fundada em junho de 2014, custeou a implantação de um túnel inflável, pedido antigo dos jogadores para evitar a proximidade com a torcida na entrada e saída de campo. A despesa com o item, que ainda pode servir para a exposição de patrocínios, foi de R$ 6 mil. A Apaga foi criada inicialmente para financiar benfeitorias no clube, como a revitalização da loja oficial na sede da Kennedy, ao custo de R$ 106 mil, prevista para este ano. A grave crise tricolor, porém, deu novo rumo à associação (leia mais nesta página).

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Apesar do apoio, Fernando Geraldi, presidente dos Patronos, critica a administração do Paraná. "Infelizmente, o clube gasta mais do que arrecada. A conta chega", resume ele, que é favorável à redução do patrimônio do clube para tirá-lo do buraco. "Acho viável vender a sede do Boqueirão", finaliza.

A postura é semelhante à da torcida organizada Fúria Independente, que em 2013 deu início à participação efetiva das arquibancadas no processo de socorro financeiro ao Tricolor. Naquela ocasião, a equipe vinha bem na Série B, mas os salários atrasados começaram a se acumular e o Paraná não tinha patrocinador máster. A Fúria então pagou R$ 50 mil para estampar por dois jogos sua logomarca no uniforme vermelho, azul e branco.

Exemplo seguido pela torcida virtual Paranautas e pelo Doutor Tricolor, que alugaram o espaço na camisa por uma partida cada um. O objetivo era manter o elenco embalado na luta pela volta à elite nacional. No fim, o rendimento em campo não fez jus ao esforço. Apesar da frustração com a não promoção à Série A, a Fúria Independente ainda repassou aos cofres do clube R$ 200 mil como parte das comemorações dos 20 anos da organizada.

Para o presidente da Paranautas, Alan Albino, as medidas de apoio tomadas pelos torcedores agora são pensando apenas no clube, já que os dirigentes perderam todo o crédito com a turma da arquibancada. "Depositamos uma enorme confiança neles e deu no que deu. O Marcus [Vinícius] disse a pior coisa que podia ter falado naquela hora. O nosso amor não vai deixar esse clube acabar. Nunca", desafiou. Albino vê o investimento em jovens atletas, desde que não cheguem com os direitos econômicos fatiados no profissional, como a saída para a emergência financeira.

Em março de 2014, um grupo gestor liderado pelo empresário Carlos Werner também começou a dar sua contribuição no combate à penúria tricolor. No comando das categorias de base do clube, investiu em estrutura no Ninho da Gralha (o CT dos garotos) e em colocar os salários – que chegaram a oito meses de atraso – em dia. Um oásis de paz. Na Kennedy, no Boqueirão e na Vila Capanema, as dívidas com holerites chegam a sete meses.

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Werner nem sabe quanto já empenhou para ajudar a sustentar o clube. "A gente não espera ou tem garantia de que vamos ter algum retorno. Se souber o que gasto, vou chorar. Minha esposa até pergunta, mas eu fujo do assunto", brincou.

Além do CT, o torcedor apaixonado bancou a reforma da quadra de futsal da sede da Kennedy, do qual o filho faz parte da categoria sub-7, e que ficou pronta neste mês. "O clube tem jeito e passa pelas categorias de base, o futebol. Uma volta à Série A muda nosso rumo", aponta. Na contramão da maioria, ele não concorda com a venda de patrimônio para reforçar o caixa, mesmo citando que a auditoria entregue à diretoria prova que as sedes cobririam o rombo no caixa e deixariam dinheiro à disposição. Teme, porém, pelas consequências dos atrasos salariais. "As ações trabalhistas são complexas e podem aumentar a cada dia. É uma bola de neve que não tem precisão", pondera.